domingo, 18 de dezembro de 2016

RESTAURANTE FILOMENA, NA CAPITAL AMERICANA
Era tarde da noite. Depois de um dia apertadíssimo de seminários, palestras e encontros nos escritórios do POA, Margarita e eu pegamos o subway em Washington/DC, em busca de um restaurante ainda aberto. Ressalte-se que os trens na capital americana são muito chiques e as estações limpas como as salas das nossas casas, nem uma poeirinha no chão.
Descemos na estação Georgetown, bairro famoso pelo comércio e vida noturna intensa, e nos embrenhamos pela Wisconsin Ave, aonde topamos com o restaurante Filomena. Grata surpresa, pois logo percebemos tratar-se de uma cantina famosa da região.
Sem reservas, conseguimos uma boa mesa e ficamos curtindo a descontraída decoração, repleta de adornos: quadros de todos os tamanhos e formas,  estatuetas de vidro, madeira e barro, bandeiras, pratinhos, panôs e uma parafernália de objetos tipicamente italianos, como os muranos, e mais outros produtos da terra.  Ambiente muito aconchegante, sem dúvida.
Deliciamo-nos com fartos pratos da saborosa comida, especialmente ofagotini ao molho pesto, que repetimos até raspar os pratos. A pasta veio acompanhada de um excelente vinho italiano, com a uva San Giovese, uma das minhas preferidas.
Depois do lauto jantar,  curtindo um friozinho de oito graus no rosto, decidimos voltar a pé até o Centro de Convenções, aonde estávamos hospedados.  Durante a caminhada, começamos a fazer os planos para as próximas etapas do programa Fellows, que previa uma estada no Equador - Guaquil, Cuenca e Quito; uma no Brasil - Fortaleza e Brasília; uma em Monteagle, no Tennessee/USA – sobre a qual já comentei aqui -; e uma última  na Jamaica, em Ocho Rios, também já registrada. Bons tempos, aqueles!
Belo Horizonte, 2014. (Foto Google)
rhbrandao@gmail.com
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Para que o mal triunfe, basta que os bons fiquem de braços cruzados”, do político e filósofo irlandês Edmund Burke 

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

ENCHENTES EM BELO HORIZONTE
Certa noite recebi um telefonema do Celinho, meu cunhado, pedindo para socorrê-los na Rua São Paulo com Avenida Álvares Cabral, onde o carro em que estavam ele seus pais, Dr. Célio e dona Santa, havia sido levado pela correnteza abaixo. Imediatamente me dirigi ao local, encontrando os três sob a marquise de um prédio, debaixo de um guarda-chuva preto, ensopados e tremendo de frio. De lá mesmo, desolados com a cena, víamos o Simca Presidente preto entalado numa das muretas de um córrego que corria pela Rua São Paulo. Necessitados de um bom banho quente, levei-os imediatamente de volta para casa. 
No dia seguinte, o carrão foi rebocado para uma oficina, onde permaneceu durante meses. Foi necessário até abrir o motor, que estava cheio de gravetos e folhas. A correnteza enchera o bloco do motor, entre os cilindros, válvulas, juntas, com um monte de plantas, terra, raízes, provocando um odor podre no belíssimo sedan quatro portas. Impossível de ser combatido o mau-cheiro, o carro acabou sendo vendido com a podridão entranhada no seu habitáculo.
Em outro tempo, deixei meu Karman-Ghia vermelho, zero km, num estacionamento em frente ao Aeroporto da Pampulha e viajei para o Rio a fim de acompanhar a gravação de um áudio com o locutor Sérgio Chapelin, para um cliente de BH. Era somente um pernoite, pois a gravação estava reservada para um estúdio às 21 horas, depois que o locutor terminasse o Jornal Nacional da Rede Globo. Ao retornar a BH, no dia seguinte, fui direto ao estacionamento e encontrei-o vazio. Fiquei gelado. Entreguei o comprovante a um rapaz, que me contou desconsolado: “Ih, doutor, caiu uma bruta tempestade ontem à noite, e a enxurrada carregou todos os carros que estavam dormindo aqui. Tá tudo espalhado aí pela praça. Tome aqui a sua chave e vá procurá-lo, por favor.” A Praça Bagatelle estava uma desolação. Barro acumulado por todo lado e alguns carros - uns vinte talvez -, sobre os passeios, trombados em árvores e muros, enfim, um caos. De longe, enxerguei o vermelhinho todo enlameado, mas, felizmente, sem nenhum amassado, pois estava na parte aberta da praça, sobre um daqueles canteiros. Passei um mês lavando o carro todos os dias, mas, sem sucesso. Acabei vendendo o carrinho, também, com cheiro e tudo.  Uma lástima!
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS 
Uma parte de mim é permanente e a outra é um saber de repente.
Ferreira Gullar 







domingo, 4 de dezembro de 2016



O POTE DE OURO 
Estava distraído aqui na Toca, ouvindo música e escrevendo, quando escutei uma falação, uma conversaria danada que parecia vir da rua. Chequei até a varanda e vi uma verdadeira multidão na porta do meu prédio, apontando e olhando para cima. Acompanhei os dedos e braços apontados e, como eles, também fiquei encantado. No alto do belo prédio, meu vizinho, que dá frente para a Rua Bernardo Guimarães, estava pousado um enorme arco-íris. Daqueles belos, que iluminam o fim de tarde da nossa não menos bela Horizonte.
Quando todos nós observávamos a fantástica aparição, surge um avião por detrás do prédio e atravessa o arco-íris em toda a sua extensão. Parecia que o piloto, também encantado, queria voar até o fim do arco-íris para descobrir seu segredo. Há uma lenda que fala sobre alguma coisa escondida atrás do arco-íris, um pote de ouro, quem sabe?
Muitos incorrigíveis românticos já andaram na busca que esta lenda excita, porém, nunca ninguém deu notícia de nada. Voltam sempre de mãos e ideias abanando. Nada além do arco-íris...
Já eu, que acredito piamente nesta história, vou continuar buscando o tal pote de ouro.
Lembro-me que estava na Jamaica, em Ocho Rios, numa região interessante, onde o rio encontra o mar numa forte correnteza, sobre a qual os inocentes turistas são induzidos a escalar, subindo pelas pedras, no sentido contrário ao seu curso. Uma loucura!
Fiquei observando os intrépidos aventureiros, meus colegas do grupo Fellows II, sentado numa ponte e rodeado por mais de uma dúzia de latinhas de cervejas jamaicanas, que são bem razoáveis. Daquele ponto, avistei um arco-íris formado no mar e que entrava terra adentro, numa mata fechada, que abrigava esta embocadura do rio com o mar. Eu estava, exatamente, neste ponto de encontro do arco-íris com a mata.
Pensei rápido: é hoje, estou pertinho do pote de ouro. Comecei a buscá-lo, com tanta crendice, que passei a enxergar coisas brilhantes em cada toca ou buraco que mexia ou enfiava o pé. Parecia um caçador da arca perdida! E, quanto mais cerveja, mais as visões de multiplicavam, claro, não pelo efeito do álcool, mas, pelo fascínio de estar tão perto da lenda. Sou muito curioso com essas crenças populares e esta do pote de ouro no fim arco-íris é universal e me fascina! Por todos os lugares por onde andei, os aborígenes comentavam sobre ela e sempre com o comentário decepcionante de que nunca tinham encontrado nada.
Ali, achei que era a minha vez. Continuei enfiando a cara mata adentro, quando surgiu uma borboleta amarela. Sempre elas a me acompanharem. Fui atrás por uns bons metros, escorregando mata afora, meio conduzido pela minha guia e pela minha imaginação, até que cheguei à praia. E o arco-íris entrava pelo mar e sumia no horizonte até onde a vista não alcançava.
Pensei: esta busca termina aqui. Não vou me enfiar no mar, primeiro porque nado muito mal e, segundo,porque não vou conseguir levar as cervejas comigo. E sem cervejas não ando nem muito menos nado. Ciao,pote de ouro.
Voltei da Jamaica na mesma condição em que cheguei: pobre, porém, muito feliz...
Roberto H. Brandão – 09/12/2010
FRASES, PENSMENTOS E AFORISMOS
“Se você se sente só quando está sozinho, é porque está em má companhia.” Jean Paul Sartre