Conhecer uma cerveja artesanal, para um viciado como eu, é a melhor oportunidade de encontrar e beber a cerveja perfeita.
Já tentei mil fórmulas para encontrar a minha eleita: Guinness com Brahma ou com Antarctica, Caracu com Kaiser ou com Schin, Budweiser com Devassa Negra, enfim, venho tentando ao longo da vida descobrir meu sabor favorito. Num dia destes, até, bebi uma que chegou bem perto. Tomei num bar em New York, indicada por um cervejeiro de boa cepa, a Heineken dark. Sem dúvida, é muito boa mesmo. Cheguei até a encontrá-la, também em Denver, no Colorado, onde esgotei o estoque da Delikatessen local. No Brasil, infelizmente, ela não chega.
Mas, quem busca, incansavelmente, como eu, um dia, acaba encontrando.
Atualmente, estou bebendo um blend que inventei: duas partes de cerveja Antarctica Sub Zero e uma parte de Xingu. A mistura fica bem agradável. Numa taça longa, então, fica bem gostosa.
E, nestas andanças pelo interior de Minas, compareci a um seminário da Epamig chamado Dia de Campo, no município de Maria da Fé, para uma transferência de tecnologia sobre o plantio, adubação e colheita das oliveiras, que, por sinal, estão indo muito bem nos contra-fortes da belíssima Serra da Mantiqueira. Lembrem-se deste nome: Maria da Fé.
O sul de Minas Gerais é um primor, uma região linda e progressista.
Depois das explicações técnicas, quando percorremos boa parte da área plantada da Fazenda Experimental, fomos convidados para um almoço num amplo galpão onde, num cantinho, vislumbrei um barril de chope com um nome estranho Kraemerfass.
Cheguei mais perto e ouvi uma conversa entre três senhores, falando sobre cerveja. E é deste papo que eu gosto. Sentei-me numa mesinha ao lado e fiquei, intrometidamente, ouvindo a conversa, de olho fixo no barril de chope. Nenhum movimento para serví-lo!
E da prosa, percebi que um dos presentes era o dono da tal cervejaria artesanal de nome também estrangeiro: Newton Litwinski. Um expert em cervejas e, também, produtor/fazendeiro de oliveiras.
Vale aqui uma observação. A oliveira é uma planta muito delicada e bonita, com as folhas verdes em cima e brancas por baixo, num caule fino e estiloso.
É uma planta linda que só poderia gerar bons frutos/as: as azeitonas que, tanto servem para comer puras ou ao vinagrete ou, ainda, virar azeite, produto nobre da culinária mundial. No caso de Maria da Fé, a Epamig está produzindo o primeiro azeite Extra Virgem do Brasil. Sensacional.
Mas, voltemos ao papo da cerveja.
Num determinado momento, não resisti e me intrometi na conversa dos três e fui dando meus palpites. Contei sobre o blend que havia inventado e preparei um suborno para o Litwinski me servir logo um chope. Vale lembrar que o dia estava muito quente e o barril estava geladinho! Pedi uma amostra. Ele consultou seu xará, o Nilton, gerente da Fazenda, que argumentou que não poderia abrir uma exceção para mim porque daí, todo mundo também iria querer e ainda faltava uma palavra do presidente da Epamig para começar os comes e bebes. Fiquei seco!!
Mas voltei à carga. “Ô Newton, me dá só um copinho, escondido atrás da parede da cozinha, etc., etc. Estou com tanta vontade que já estou começando a babar e você sabe que, cervejeiro quando baba...” Adverti.
Aí, ele se convenceu, ou melhor, foi convencido. Chamou o servente num canto e o orientou para me servir um chope escondido, bem escondido na cozinha. E na tulipa. “Nada de copo de plástico, heim?” Falou, ríspido.
E aí, quando tomei, aconteceu aquele negócio sobre o nome da cidade: tem que ter fé...
E a minha foi tanta, que acabei tomando a melhor cerveja da minha vida. Deliciosa. Leve e encorpada, uma delícia!
A Kraemerfass, podem ter certeza, honra perfeitamente o slogan que tem: A VERDADEIRA CERVEJA.
Seu proprietário e produtor, o Newton Litwinski, é um craque. Com certeza, está produzindo a melhor cerveja do Brasil, para o meu gosto, no município de Delfim Moreira, no sul do estado de Minas Gerais.
Aí, sentaram-se à nossa mesa duas cervejeiras cariocas, a Sheila e uma amiga, que haviam observado, de longe, a movimentação estranha dos componentes da mesa para esconder alguma coisa. Talvez fosse, até, uma tulipa de chope. Quem sabe?
Da mesma forma tentaram, tentaram e foram dobrando o Litwinski e sua esposa Fátima,
que concordaram em servir-lhes uma tulipa escondida atrás da parede da cozinha.
As duas voltaram com as caras mais felizes do mundo. É claro, adoraram a Kraemerfass, como eu.
Lógico que, depois do discurso tomamos todas. Estratégicamente sentados ao lado do barril e bem apresentados ao tirador do chope, passamos uma tarde muito agradável no rincão das oliveiras. É uma pena que a Kraemerfass, cuja tradução literal é barril de cerveja Kraemer, não venha para Belo Horizonte. Se viesse, iria alugar a casa vizinha e de lá, não sairia jamais.
O sul de Minas surpreende, sempre!
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