segunda-feira, 4 de abril de 2011

BAILES DE FORMATURA - Good times

No ano de 1958, em São Paulo, descobrimos a melhor escola de dança grátis. Bem, não tão grátis assim, porque custavam as cervejas que tomávamos, as meias-solas dos nossos sapatos sociais porque, geralmente, íamos e voltávamos à pé, na madrugada paulistana. Eram os bailes de formatura dos inúmeros colégios e faculdades da cidade. As principais e mais chiques, eram promovidas em dois espaços: no salão do Aeroporto de Congonhas, novinho, e no tradicional Clube Homs, na Avenida Paulista. Essas festas eram memoráveis. Eu vestia um smoking surrado do papai, que tinha sido do meu avô, e a Lúcia um vestidinho de tule que a mamãe ajeitava para ela, mudando os modelitos para cada festa. E, assim, comparecíamos a todas as formaturas. Convidados ou não. Penetramos em diversas. Nas mais arriscadas a Lúcia não ia. Por exemplo, no Aeroporto de Congonhas, que tinha um belo salão de festas, tínhamos que pular de uma ponta do terraço/observatório para a outra ponta, que era o terraço do salão. Uma acrobacia muito difícil, pois se errássemos o golpe, íamos nos estatelar lá embaixo no passeio. Com todo o risco, o Mando, o Renato Magro e eu, comparecemos a muitas e dançamos demais. Renato e eu dançávamos bem. O Mando, mais ou menos. Lúcia e eu sempre vivemos com a música na cabeça e, como temos bons ouvidos, o bom ritmo era consequência. No entanto, eu era muito inibido. Para tirar uma menina para dançar tinha que beber todas e, quando criava coragem as pernas já estavam trançando e a dança ficava comprometida. Mas, mesmo assim, dancei muito. O Rodouro me encorajou por diversas vezes. Lembro-me de que o ponto de partida era lá em casa, na Teodoro Sampaio. Os interessados iam chegando e apresentavam as alternativas da noite de sexta ou sábado, que eram os dias escolhidos para as festas.
Quando tínhamos convites, às vezes apenas um, não tínhamos dúvida de que seria a festa escolhida, mas, sem convite decidíamos pela que achávamos melhor, mais society, etc. Numa das melhores, me lembro, o Renato passou lá em casa, agitadíssimo, com uma novidade. Disse que a moda agora, era tomar “bolinha”. Perguntei o que era aquilo e ele me explicou que eram uns comprimidinhos de Pervitin, que eram vendidos livremente nas farmácias e davam uma doideira danada, se tomados junto com qualquer bebida alcoólica. Topamos experimentar. Compramos duas latinhas numa farmácia do Largo do Arouche e fomos à pé numa festa no Clube Pinheiros. Longe demais. Atravessamos a cidade, literalmente. As bolinhas davam um ânimo que, se a festa de formatura fosse na Lua, topávamos na hora. Já na festa, tomamos algumas cervejas e o efeito foi formidável. Viramos os mais lindos, corajosos e melhores bailarinos do lugar. Ficamos na festa até o último convidado ir embora e, de lá, fomos tomar alguns chopes no Flamingo, na rua Augusta. Imaginem, às 8 da manhã, sentados de smoking no Flamingo com os olhos arregalados e falando sem parar...Ficamos por lá até as duas da tarde e fomos ao cinema, no Cine Picolino, para um filme que, para nós, não tinha o menor sentido. Ô juventude transviada...
RHB – fevereiro/2011

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