domingo, 14 de agosto de 2011

O PRIMEIRO CARRO DO PEDRO. CARRO?


Quando o Pedro completou dezoito anos, carteira de habilitação na mão e já frequentando o Curso de Mecatrônica no Campus da Católica, lá no bairro Dom Cabral, procurou-me com um olhar pedinte, alegando estar, então, chegando atrasado às aulas quase todos os dias, porque tinha de tomar dois ônibus e, às vezes, até perdia o horário. Ele queria um carro, qualquer um, para não perder aula, pois o curso era muito apertado.
Com as finanças sempre justas, prometi pensar no assunto e, depois de umas tantas cervejas, tive uma ideia, que considerei genial.
Eu já havia comprado, por duas vezes, a cota do Minas Tênis e a não ser por umas poucas aulas de tênis que o Pedro iniciou nunca frequentamos o clube. Aliás, nossa família nunca foi clubística. Assim, com a venda da primeira cota comprei do Luiz Flávio, meu primo, três janelas e duas portas de madeira maciça, para uma casinha de campo que, à época, estava construindo em Santa Luzia. A casa ficou linda, arejada e era bem mais frequentada que o clube. Mais pra frente, comprei nova cota com o firme propósito recorrente de usufruir ao máximo do super clube. Outra decepção, nada aconteceu. 
Assim, depois das inspiradoras cervejas, resolvi vender a segunda cota para comprar o carro do Pedro e, com a economia do condomínio, ainda fornecer-lhe a gasolina que, na época, estava a preço de banana. Dito e feito, com essa super grana na mão, começamos a ler anúncios e a procurar o tal primeiro carro do Pedro. Quando o automóvel é caro, é muito fácil encontrá-lo. Já quando é barato, também é muito fácil, porque você não tem opção. Ou não é ou não é.
No primeiro fim de semana de busca, achamos numa Concessionária um carro usado que se encaixava no preço. Acertamos o negócio e pegamos o Passat verde Pampa 1980, classificação de fábrica, bem usado mesmo, com os bancos tão gastos que tínhamos a sensação de andar com a bunda arrastando no asfalto. Uai, pra começar estava muito bom, pensamos.
O Pedrão ficou mesmo muito feliz, mas logo começaram a aparecer uns probleminhas. Já na primeira noite, muita chuva e ele, para estrear o carrão, gentilmente, foi levar a namorada em casa. Numa curva mais fechada, quase perdeu a garota: a porta se abriu e ela ficou dependurada com os longos cabelos na enxurrada. Heroicamente, ele conseguiu resgatá-la para o interior do veículo e decidiu que, a partir dali, iria colocar uma corda amarrando a porta. Pediu ao avô uma daquelas cordas de plástico, que ele usava nos cabrestos dos cavalos da fazenda, e amarrou a porta, como ocorria com os velhos táxis de BH. Quando o passageiro descia, o chofer puxava a corda, amarrada na maçaneta, para fechar a porta. Pelo menos, o Pedro já contava com um eficiente uso comprovado das cordas.
Outra boa do uso do “carrão” era quando ele voltava da Faculdade. Abria o porta-malas e mandava os colegas entrarem. Eles mesmos colocaram um apelido no espaço: “chiqueirinho”. E vinha a patota empoleirada até a Praça Sete.
Para tornar o Passat mais confortável, tive outra ideia, que também imaginei ser ótima. Resolvi estofar os bancos da máquina e levei num capoteiro amigo meu, que caprichou mesmo. Montou dois pufes para os bancos da frente que - dizia o Pedro - tinha que dirigir com um olho no chão e o outro no parabrisa. Os bancos ficaram tão altos que as cabeças se encurvavam para não bater no teto.
Com a pintura bastante desbotada, quando o poderoso foi vendido já tinha ganhado o apelido de “verdinho diarréia”. Ainda bem que ele não cheirava...
Belo Horizonte, 12 de agosto de 2011.
Nas fotos um irmão da fera!
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
O problema de morar sozinho é que é sempre a nossa vez de lavar a louça.  Al Bernstein

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