QUEBRA DE COSTUMES
De Copenhagen, na Dinamarca, para Malmo, na Suécia, pegamos um ferry-boat, que atravessava direto um estreito canal do Mar Báltico. Desembarcamos e buscamos transporte para a cidade de Lund, sede da fábrica de embalagens de leite Tetrapak. A ligação entre as duas cidades poderia ser de carro, que não tínhamos, ou de trem, que estava prestes a sair. Embarcamos no trenzinho de madeira, lotado de operários das indústrias locais no seu regresso para casa nas diversas cidades do sul da Suécia, onde Malmo é uma referência e reduto de grande parte das indústrias nórdicas.
Era um trem suburbano mesmo, muito simples, cadeiras duras também em madeira, que lembrava as nossas Marias-Fumaças que ainda rodam turisticamente pelo interior do Brasil.
Assim como os operários, estávamos também muito cansados, vindos de uma longa jornada de Belo Horizonte a Copenhagen, com escalas em São Paulo , Paris e Hamburgo, com todas as esperas nos aeroportos para os traslados, totalizando mais de 20 horas embarcados.
Hospedaram-nos no Hotel Lundia, numa noite gelada de 10 graus negativos e não nos restava alternativa, a não ser a de tomarmos vários cálices de whisky, cow-boy stile, para esquentar, e nos fartarmos com um bem temperado arenque com vinho Beaujolais. Em seguida, pular na cama.
Na manhã seguinte, estávamos programados para uma visita à fábrica da Tetrapak onde escolheríamos uma, entre as diversas máquinas empacotadoras, a ser importada, que se adequasse ao porte de um laticínio mineiro, nosso cliente.
A caixa/embalagem era a grande novidade no mercado brasileiro de leite, visto que somente a Argentina e o Chile já haviam distribuído o produto naquele formato conhecido como “o leite de caixinha”.
Muito organizados, os responsáveis pelo marketing da fábrica já haviam produzido um excelente audiovisual para exibir as campanhas de lançamento nos países latinos que, com certeza, serviria como referência para nós, da Randrade Propaganda, que então não conhecíamos as inúmeras vantagens daquela surpreendente embalagem.
Nascia, naquele momento, um importante marketing case da propaganda brasileira, que iria buscar a quebra de costumes centenários como o de, entre outros, ferver o leite antes de servi-lo. A total assepsia da caixa dispensava a fervura.
No entanto, fomos obrigados a veicular uma nova campanha depois do vitorioso lançamento, orientando sobre a forma de uso do produto naquela embalagem.
Não fosse isto, o “leite da caixinha”, com certeza, ficaria encalhado nas prateleiras, enquanto os populares saquinhos continuariam pingando pelos passeios, ruas e chãos das casas mineiras.
Belo Horizonte, julho de 2013.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Nunca vi uma boa amizade nascer numa leiteria. Vinícius de Morais
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