PERIGO EM DENVER
Eram quase onze
horas da manhã, véspera de Natal, eu estava em Denver, no Colorado, descendo a
Avenida Broadway em direção à Larimer Street para comprar umas lembrancinhas quando,
ao dobrar uma esquina, deparei com uns caras muito esquisitos - roupas
misturadas de maltrapilhos e índios -, figuras muito suspeitas.
Meu amigo José Gonçalves já havia me prevenido sobre esses estranhos
personagens. São índios errantes que vão de um lugar a outro, esperando a
chance de furtar algum dinheiro, para comer, ou de levar alguma coisa vendável
para fazer dinheiro.
Eles eram três, mas não me intimidei. Enchi o peito e pensei, de
dois eu dou conta, pois eram franzinos. Dou um chute por baixo num deles e,
enquanto ele grita dou um murro na cara do baixinho e fico pronto para
enfrentar o grandão. De mim eles não vão levar nada, só o cadáver!
Continuei meu caminho na rua deserta. Eu de um lado e eles do
outro, encarando-me ameaçadoramente.
Naquele momento, em segundos, pensei em tanta coisa: já corri de uma
prostituta em New York até me esconder numa galeria de lojas; já despistei
pixotes no Rio, em pleno calçadão de Copacabana; já me escondi de uma turba que
lutava por direitos civis, em Paris, e eu no meio; já saí correndo de um bar em
Ribeirão Preto, o “Três Garçons”, às cinco da manhã, quando os cafetões foram
buscar, a tiros, as suas preferidas, que jantavam conosco, depois de uma noitada
feliz; já coloquei uma máscara de coiote para ir a um baile em São Paulo, onde
só aos sócios era permitida a entrada. De lá, também, saímos corridos, depois
de um entrevero com namorados ciumentos.
Assim, depois de tantas peripécias, não seria naquele domingo, em
Denver, que eu encerraria minha vida aventureira. Enchi de novo o peito e
continuei no meu caminho, quando os suspeitos atravessaram a rua vindo em minha
direção.
Por pura sorte, naquele exato momento, estaciona um ônibus de
turistas em frente ao Brown Palace Hotel, que descem em barulhenta algazzarra. Meti-me
entre eles e fui empurrado hotel adentro, de onde, através da porta rolante,
fiquei de olho nos delinquentes.
Desisti de ficar zanzando na rua, sentei-me no aconchegante Captain`s
Bar e tomei, de um gole, o Jack Daniels straight.
Aí, entrou alguém com um violão, meio desanimado, tocou algumas canções
americanas e, a meu pedido, cedeu o violão para que eu tocasse umas músicas
brasileiras...e foi um arraso. Ufa!
Belo Horizonte,
dezembro/2014.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
“ Desta vida a gente só leva a alma.
Cuide bem da sua !!! ” – Anônimo.