quarta-feira, 24 de dezembro de 2014



PERIGO EM DENVER
Eram quase onze horas da manhã, véspera de Natal, eu estava em Denver, no Colorado, descendo a Avenida Broadway em direção à Larimer Street para comprar umas lembrancinhas quando, ao dobrar uma esquina, deparei com uns caras muito esquisitos - roupas misturadas de maltrapilhos e índios -, figuras muito suspeitas.
Meu amigo José Gonçalves já havia me prevenido sobre esses estranhos personagens. São índios errantes que vão de um lugar a outro, esperando a chance de furtar algum dinheiro, para comer, ou de levar alguma coisa vendável para fazer dinheiro.
Eles eram três, mas não me intimidei. Enchi o peito e pensei, de dois eu dou conta, pois eram franzinos. Dou um chute por baixo num deles e, enquanto ele grita dou um murro na cara do baixinho e fico pronto para enfrentar o grandão. De mim eles não vão levar nada, só o cadáver!
Continuei meu caminho na rua deserta. Eu de um lado e eles do outro, encarando-me ameaçadoramente.
Naquele momento, em segundos, pensei em tanta coisa: já corri de uma prostituta em New York até me esconder numa galeria de lojas; já despistei pixotes no Rio, em pleno calçadão de Copacabana; já me escondi de uma turba que lutava por direitos civis, em Paris, e eu no meio; já saí correndo de um bar em Ribeirão Preto, o “Três Garçons”, às cinco da manhã, quando os cafetões foram buscar, a tiros, as suas preferidas, que jantavam conosco, depois de uma noitada feliz; já coloquei uma máscara de coiote para ir a um baile em São Paulo, onde só aos sócios era permitida a entrada. De lá, também, saímos corridos, depois de um entrevero com namorados ciumentos.
Assim, depois de tantas peripécias, não seria naquele domingo, em Denver, que eu encerraria minha vida aventureira. Enchi de novo o peito e continuei no meu caminho, quando os suspeitos atravessaram a rua vindo em minha direção.
Por pura sorte, naquele exato momento, estaciona um ônibus de turistas em frente ao Brown Palace Hotel, que descem em barulhenta algazzarra. Meti-me entre eles e fui empurrado hotel adentro, de onde, através da porta rolante, fiquei de olho nos delinquentes.
Desisti de ficar zanzando na rua, sentei-me no aconchegante Captain`s Bar e tomei, de um gole, o Jack Daniels straight. Aí, entrou alguém com um violão, meio desanimado, tocou algumas canções americanas e, a meu pedido, cedeu o violão para que eu tocasse umas músicas brasileiras...e foi um arraso. Ufa!

Belo Horizonte, dezembro/2014.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS

 “ Desta vida a gente só leva a alma. Cuide bem da sua !!! ” – Anônimo

sábado, 20 de dezembro de 2014

O HOMEM DAS “NUVENS AZUIS”
Com este título, só poderia tratar nesta crônica sobre a vida de um sonhador. E ele era.
Nascido de uma família pobre no Serro, então distrito de Diamantina, Redelvim saiu de casa para entregar mulas e acabou encontrando os cristais que povoaram a vida dele de alegrias e lhe proporcionaram amealhar uma das maiores fortunas de Minas Gerais.
Morando em Belo Horizonte e com a família formada, entrou num DC-4 da Pan-American. Sozinho e sem falar uma palavra em inglês aportou em Nova York com umas pedrinhas no bolso do colete para tentar vendê-las a empresários americanos. Começava ali a história do "Rei do Cristal", apelido que recebeu da grande elite industrial brasileira ao montar uma exportadora das pedras mineiras. Isto, em plena Segunda Guerra Mundial, quando o cristal se prestava a inúmeras utilidades para os sofisticados aparelhos projetados pelo MIT - Massachusets Institute os Technology, em Cambridge.
Mas ele não parou por aí. Continuou sonhando e no velho alambique da Fazenda Boa Esperança, em Santa Luzia, destilou a primeira garrafa da aguardente que batizaria de “Nuvens Azuis”.
Esta é uma pequena introdução à história que estou escrevendo sobre o Redelvim Andrade que, na foto gentilmente remetida pelo seu primeiro neto Henrique Oswaldo, aparece ao lado do primeiro alambique da “Nuvens Azuis”.
Aos leitores, parentes e amigos do produtor da famosa cachaça, que queiram colaborar, peço a gentileza de me enviarem histórias, fatos e acontecimentos relativos à vida dessa extraordinária figura. Muito obrigado.
Belo Horizonte, dezembro de 2014.
rhbrandao@gmail.com


FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Não se acostume com o que não o faz feliz. Fernando Pessoa


sábado, 13 de dezembro de 2014

A PRIMEIRA NOITE COM JULIE
Já nos conhecíamos há algum tempo, mas nunca havíamos tido qualquer compromisso. Era mais um flerte, que evoluiu até ela passar uns dias comigo, lá na Toca. Àquela época, ela estava com a prima Brisa e não houve clima para nada mais sério.
Agora, alguns anos depois, fiquei sabendo, pelo pessoal dela, que à simples menção do meu nome, sua fisionomia se alterava com algum interesse. Pensei logo, aquele nosso encontro havia sido muito bom mesmo e, naquela ocasião, a prima ciumenta não deixou que ela se aproximasse mais de mim. Ciúme de prima é fogo!
Depois dessa conversa, manifestei vontade de revê-la. Eles ficaram muito satisfeitos, pois iriam passar uma semana num resort na Bahia e ela não iria. Ainda estava muito triste com a morte prematura da prima, no ano passado.
Combinamos tudo e, no fim da tarde, antes de tomarem o rumo do aeroporto, eles deixaram-na lá em casa. 
Coloquei um CD mais moderninho na vitrola, ofereci-lhe uma bebidinha e, como da outra vez, ela preferiu água. Ofereci-lhe uns tira-gostos, mas ela também recusou, preferindo uns bolinhos que mais pareciam ração. Ela estava meio desambientada e decidi não incomodá-la, afinal, vaidosa como poucas, poderia estar fazendo algum regime. Melhor não insistir.
Ficamos por ali sem muito papo. A Toca é muito pequena. Não tem jardim com um banquinho romântico, não tem quintal para um passeio na horta, enfim, há muito pouco o que fazer por lá. E, sem qualquer clima, resolvi encerrar a noite e ir pra cama, quem sabe isto não melhoraria o humor dela?
Na cama, até foi carinhosa e aconchegante, enroscou-se nos meus braços, lambeu minhas mãos e preferiu acomodar-se aos pés da cama, entre minhas pernas. Cada qual com sua mania, pensei.
No meio da noite, Julie saiu da cama rosnando e foi dormir debaixo da cadeira, numa almofada que havia caído no chão. Vá entender a raça feminina!
Belo Horizonte, dezembro 2014.
rhbrandao@gmail.com
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS

Não se acostume com o que não o faz feliz. Fernando Pessoa
Foto Google.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Foto Google.
RESTAURANTE FILOMENA, NA CAPITAL AMERICANA
Era tarde da noite. Depois de um dia apertadíssimo de seminários, palestras e encontros nos escritórios do POA, Margarita e eu pegamos o subway em Washington/DC, em busca de um restaurante ainda aberto. Ressalte-se que os trens na capital americana são muito chiques e as estações limpas como as salas das nossas casas, nem uma poeirinha no chão.
Descemos na estação Georgetown, bairro famoso pelo comércio e vida noturna intensa, e nos embrenhamos pela Wisconsin Ave, aonde topamos com o restaurante Filomena. Grata surpresa, pois logo percebemos tratar-se de uma cantina famosa da região.
Sem reservas, conseguimos uma boa mesa e ficamos curtindo a descontraída decoração, repleta de adornos: quadros de todos os tamanhos e formas,  estatuetas de vidro, madeira e barro, bandeiras, pratinhos, panôs e uma parafernália de objetos tipicamente italianos, como os muranos, e mais outros produtos da terra.  Ambiente muito aconchegante, sem dúvida.
Deliciamo-nos com fartos pratos da saborosa comida, especialmente o fagotini ao molho pesto, que repetimos até raspar os pratos. A pasta veio acompanhada de um excelente vinho italiano, com a uva San Giovese, uma das minhas preferidas.
Depois do lauto jantar,  curtindo um friozinho de oito graus no rosto, decidimos voltar a pé até o Centro de Convenções, aonde estávamos hospedados.  Durante a caminhada, começamos a fazer os planos para as próximas etapas do programa Fellows, que previa uma estada no Equador - Guaquil, Cuenca e Quito; uma no Brasil - Fortaleza e Brasília; uma em Monteagle, no Tennessee/USA – sobre a qual já comentei aqui -; e uma última  na Jamaica, em Ocho Rios, também já registrada. Bons tempos, aqueles!
Belo Horizonte, 2014.
rhbrandao@gmail.com
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Para que o mal triunfe, basta que os bons fiquem de braços cruzados”, do político e filósofo irlandês Edmund Burke 


sábado, 29 de novembro de 2014




"COMETISSAGEM"
Em nossa reunião sabática na varanda da casa do Zuza,  antes do almoço, vagamos nossas mentes sobre curiosidades vividas, assuntos do momento e recordações das nossas prolíficas vidas mundo afora.

No último sábado, com uma carabina na mão, ele veio me desafiar a acertar o caule vermelho de uma árvore, na densa floresta do Ministério da Agricultura, em frente ao prédio onde mora, na Raja Gabaglia.
"Você está louco, Zuza? Ficar dando tiros em plena avenida? Não aceito este desafio de jeito nenhum. Que ideia maluca!"
“Você é bobo mesmo, hem, Roberto! Eu só queria comparar a sua pontaria com a dos cientistas da ESA - European Space Agency, que há dez anos dispararam o foguete-sonda Rosetta, para aterrissar num meteoro a 510 milhões de quilômetros da Terra. E eles acertaram na mosca!”
Rimos muito do inusitado desafio, ele guardou a carabina e voltamos a filosofar sobre o tema. Era um feito incrível para a ciência aeroespacial, pois aquela sonda vagou durante tantos anos pelo espaço e, na semana passada lançou, com sucesso, um robô batizado de Philae, sobre a superfície do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, de apenas quatro quilômetros de extensão.  A missão do robozinho - que tem uma massa de cerca de 100 quilos de peso na Terra e, no cometa, adquire um peso de apenas um grama pela pouca gravidade -, corria o risco de com um pequeno erro ou uma oscilação não "cometissar" e ser mandado espaço afora.
Entre outras coisas, o robozinho foi pesquisar se a química da superfície do cometa possui água semelhante à estrutura da água na Terra; se lá existem moléculas orgânicas no solo e na atmosfera, possibilidade de vida e, por fim, foi buscar explicações para a origem do sistema solar.
Uma semana após o extraordinário feito, é incrível como a notícia já está banalizada pelos noticiários locais, mas assim mesmo continua sendo o nosso assunto mais importante, pois já estamos até pensando em fazer uma reserva para o próximo voo tripulado para a Lua. Eita sabadão!

Em Belo Horizonte, novembro/2014
rhbranda@gmail.com

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Depressão é excesso de passado e ansiedade é excesso de futuro. Viva o presente! Anônimo.

sábado, 22 de novembro de 2014

                                         Foto Google
APRENDENDO NA HOLANDA

Hospedamo-nos no Schiphol Hotel, na área do aeroporto de mesmo nome em Amsterdã, na Holanda. Era uma noite fria de março e estávamos encarregados de comprar imensos filtros para um laticínio a ser inaugurado em Belo Horizonte. Tomamos uns drinques no bar do hotel e nos recolhemos para enfrentar uma jornada de negociações com os fabricantesdos filtros.
Viajava com um sobretudo que o Ronald havia me emprestado. Ele era verde exército, de pura lã e, por onde passava, tinha a sensação de que as pessoas queriam bater continência para mim. Isto porque talvez inspirasse uma patente de general de qualquer força militar. 
Saímos bem cedo, às sete da manhã para a fábrica, que distava alguns quilômetros do hotel.  Fomos recebidos por um alegre diretor que logo percebemos ser o Manda-Chuva da empresa. Apresentou-nos, formalmente, a dois outros diretores, pediu licença e retirou-se. Expusemos nossas necessidades, tais e quais filtros, com as especificações técnicas queo Barbier, nosso laticinista francês que nos acompanhava na árdua missão e atestava a qualidade e uso correto do equipamento.
Fizemos uma visita à imensa fábrica, especializada em filtros em aço inox, que variavam de pequenos volumes até os de toneladas de litros. Nosso interesse era pelos maiores, pois o Jarjur havia planejado montar o maior laticínio mineiro, quiçá, o maior do Brasil. Ele não era de brincadeira!
Após a visita, outros dois holandeses assumiram as discussões do negócio, que corriam em inglês e francês, conduzidas por mim e pelo Barbier, com o acompanhamento direto do Jarjur, até que chegamos à discussão dos valores e pagamentos.  Aí, a coisa ferveu, pois havíamos pesquisado previamente e o preço final não poderia ultrapassar tantos milhões de  dólares. Não me lembro mais dos valores, mas os holandeses não  concordavam nem com a nossa oferta nem com o prazo de pagamento.
As conversações foram interrompidas para o almoço, que aconteceu na própria fábrica. No cardápio uma finíssima, e nunca provada por nós, sopa  de ostras, acompanhada de pães, manteiga e geleias.
Fomos, então, para uma terceira sala, com outros dois diferentes diretores,  encarregados de nos enfiar o preço e o prazo goela abaixo, mas nós permanecemos inflexíveis com o recurso que já estava alocado para aquela  finalidade.
Já estávamos esgotados quando, às sete horas da noite, reaparece o manda- chuva, banhado e escovado, senta-se à nossa frente e se dispõe a fechar o negócio. Não deu outra, negócio fechado. Assim, mandamo-nos para o hotel, com a nova proposta, a fim de refazer todas as contas do projeto mineiro. O orçamento inicial havia dobrado.
Vivendo e aprendendo!
Belo Horizonte, setembro/2014
rhbrandao@gmail.com

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Noventa por cento do que escrevo é invenção, o resto é mentira. Manoel de Barros

sábado, 15 de novembro de 2014

BELO HORIZONTE INTERNACIONAL
Em Monteagle, no Tenessee-EUA, participei de um seminário sobre relacionamento internacional, onde pude viver exatamente como os moradores do país/colônia da Inglaterra, naquela região fortemente influenciada pelos imigrantes franceses.
Foi uma temporada ótima onde, levando o violão pra todo lado, relembrei um cem número de country & folk songs, amparado por um coral de gringos entusiasmados com as músicas lendárias das suas terras. O monitor do grupo, Jim Christie, também violonista, fazia os solos nas cordas de aço da sua potente guitar.
Monteagle é uma hospedagem próxima a Nashville, capital do estado, finamente restaurada e mantida nos padrões do final do século XIX por uma população de pouco mais de trezentas pessoas que cuidam da belíssima casa e da enorme área do seu entorno, com campos de pastagem para cavalos da raça quarter horse - em português: quarto de milha -, e com diversas nascentes de água pura e cristalina. Um lugar tranquilíssimo e reparador das energias para aqueles que vivem estressados com a vida nas grandes cidades. Para nós, bolsistas do grupo Fellows II, patrocinado pela Kellogg Foundation e organizado pelos Partners of the Americas, um excelente cenário para a prática da convivência internacional. Dos quarenta participantes, vinte eram americanos de diferentes estados e nós, latino-americanos,  estávamos representados por dois brasileiros - o Hélio e eu -, dois jamaicanos, Del Roy e Wilbert, um paraguaio, Flaviano, três mexicanos, Pilar, Fausto e Miguel, uma boliviana,  Martha, um costariquenho, Bernal, dois equatorianos, Eduardo e Gilda, uma salvadorenha, Helena Margarita, um de Belize, Victor, uma das ilhas St. Vincent, Nelcia e dois da Colômbia, Luis Carlos e Luis Alberto.
O projeto que apresentei para concorrer como bolsista era composto de uma série de ações necessárias ao lançamento de Belo Horizonte como local ideal para a realização de congressos e feiras. Primeiro, devido a sua ótima localização no centro do eixo Rio/São Paulo/Brasília; depois, devido ao clima temperado em grande parte do ano, e ainda a facilidade de hospedagem com bom volume numa rede hoteleira central e bem próxima do pioneiro Minascentro, o seu centro de convenções.
Esse projeto fazia parte das ações por mim desenvolvidas para a PROMINAS, que administrava o Minascentro e onde eu trabalhava.
Levei comigo um impresso trilíngue - português/inglês/espanhol, para distribuição e promovi uma palestra com o título “Belo Horizonte Internacional”. Tenho certeza de que aquela foi a primeira e ainda tímida manifestação com esse propósito, lançada por nós em 1986, mas que evoluiu e colocou a cidade posição muito bem cotada no mercado internacional, pois o Minascentro mantém até hoje um calendário de ocupação permanente, fechado para os próximos anos.
Belo Horizonte, novembro/2014.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS

A poesia é o mel da palavra. Manoel de Barros

sábado, 8 de novembro de 2014

BELO HORIZONTE FLORIDA
Apesar do tempo seco, sem chuvas, a cidade está vivendo uma primavera exuberante. Chegou a vez dos flamboyants. Convivemos com eles no dia a dia sem notá-los, pois estão misturados entre as diversas espécies espalhadas pelas ruas e praças de Belo Horizonte. Eles só aparecem mesmo, poderosos, na primavera, em tons de rosa, laranja, amarelo e vermelho, como ilhas nesse imenso mar de árvores.  Acredito ser um privilégio de nossa cidade o florescimento dessa espécie em grande parte das ruas, no perímetro da Avenida do Contorno e nas grandes avenidas do seu entorno, onde um cem número de flamboyants ganham realce em meio às espatódias, sibipirunas, fícus, quaresmeiras também floridas, pinheiros, palmeiras, paineiras e muitas outras.

Na minha infância sempre andava de bonde, observando cada detalhe das ruas e avenidas, enquanto percorria a cidade. A Avenida Afonso Pena, sem dúvida, era a marca registrada e um cartão postal, com sua carreira de fícus australianos ao longo de toda sua extensão até a Praça ABC. Também a Avenida Bernardo Monteiro com seus fícus, à época cinquentenários, exibia uma exuberante massa verde, que abrigava nossas brincadeiras embaixo de suas sombras acolhedoras.  Já a Avenida do Contorno, limite convencional da área central, era então pouco arborizada, mas hoje forma literalmente um contorno verde, possível de ser observado ao sobrevoarmos a cidade nos aviões de carreira, quando também notamos, perfeitamente, o que foi concebido por Aarão Reis no plano urbanístico do final do Século IXX. A Raja Gabaglia, a meu ver, possui o mais expressivo conjunto de flamboyants que, na primavera, excede em beleza e aconchego.
Por sorte, podemos dizer que Belo Horizonte ainda pode se honrar com o slogan de "cidade jardim", a ela concedido há décadas.
 Belo Horizonte, novembro/2014
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Se você não consegue conviver com meus defeitos, jamais conseguirá com as minhas qualidades. Marilyn Monroe
Fotos: Samantha Mapa

sábado, 1 de novembro de 2014

O BRASIL DO FUTURO
Política, este não é o meu assunto preferido, até porque a única vez em que me candidatei a alguma coisa foi à vice-presidência do Centro Acadêmico da Faculdade de Direito Laudo de Camargo, em Ribeirão Preto e, incrivelmente, fui eleito.
Hoje, acredito firmemente que estas eleições de 2014 marcaram a melhor fase da história republicana do país. Dois candidatos fortes, com ideias e projetos bem distintos, mas com objetivo único: melhorar o país. Assim, todos nós ganhamos. Não foi o partido do governo que ganhou, foi o país, foram os brasileiros. Ganhou a democracia.
Na dura contenda, foi montado um esquema partidário que dividiu o país em situação e oposição, apesar dos vinte e tantos partidos registrados, mas sem qualquer força unilateral, visto que os pequenos se juntaram às claras propostas dos partidos em final de disputa e concederam para nós uma única forma de atuação bipartidária em prol de um país melhor e mais justo.
Espero agora ver consolidada a grande democracia sul-americana de hoje, pois acredito que só no Brasil poderia acontecer isto. Nossos vizinhos - de sul a norte, leste a oeste - nunca tiveram a oportunidade de se digladiar em torno de uma ideia, um projeto, com tanta clareza e objetividade. E as armas - com as exceções conhecidas -, estavam distribuídas quase com igualdade, daí um resultado tão expressivo para ambas as partes. A essência da democracia, sem nenhuma pretensão didática, é a divisão de poderes, que é a sua mola mestra. O confronto de ideias, conceitos e dogmas levam sempre aos melhores resultados.
A oposição, no Brasil, nos últimos doze anos, sempre se manteve tímida e inexpressiva porque os resultados eleitorais assim determinavam. Nesse período, quem ganhou por aqui exerceu uma força política dominante, sem oposição. Já agora, nessas eleições de 2014 não, venceu o lado que se fortificou baseado em favores e gorjetas miseráveis, regionalizadas e discriminatórias, contra um programa de mudanças apresentado com clareza, competência e ideias modernas objetivando a afirmação de um país grande, genérico, total. Este é o grande tema de hoje: o Brasil, como as grandes civilizações modernas, dividido em dois partidos com ideias diferentes, muitas vezes antagônicas - como é a essência da democracia -, mas com amplos poderes de ambos os lados para discutirem e impor o melhor resultado.
Creio que chegou a hora e a vez do Brasil. Cada um com sua cor, os dois antagonistas vão nos proporcionar um país melhor, pois cada um vai buscar o melhor para atender aos seus correligionários e todos nós ganharemos com isto. Os dois são fortes, são expressivos e são opostos. É disto que o país precisava: duas forças equiparadas em poder para lutar por um Brasil livre e soberano.
Belo Horizonte, 29 de outubro de 2014.

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
A diferença entre um estadista e um demagogo é que este decide pensando nas próximas eleições, enquanto aquele decide pensando nas próximas gerações. Winston Churchill 



                                         Sir Winston Churchill

Fotos Google

sábado, 25 de outubro de 2014

VIZINHANÇA INCÔMODA NA COBERTURA
Dia desses, a cobertura do prédio onde o Frederico mora e acima do apartamento dele, recebeu uma vizinhança muito incômoda.
Recentemente, toda vez que o Frederico saía de casa notava uma sujeira qualquer caindo das gretas do alçapão no hall da escada, em frente da sua porta. Era uma sujeira estranha, meio "titica de galinha" misturada com poeira e serragem, sem cheiro, mas muito pródiga(?), deixando imunda a entrada da casa.
Certa manhã, ele acordou decidido, pegou a escada e se meteu escuridão adentro no forro do telhado. Ligou a luz do poderoso celular e deu de cara com esse bichinho, aí retratado: um filhote de urubu, em pé ao lado do ninho vazio.

Ah! Então é você o responsável por essa porcariada toda?
Subitamente, percebeu certo movimento numa fresta no telhado, por onde viu entrar a mamãe urubua, toda empertigada, trazendo no bico comida pro filhotinho.
Frederico se ajeitou na laje suja e ficou observando mãe e filho se entenderem. Como todas as mães zelosas, alimentou o seu bebê, fez-lhe um carinho com o bico e depois partiu para novos voos e aventuras diurnas. Certamente, voltaria à noite para também se abrigar por ali.
Frederico já havia visto urubus sobrevoando o prédio e algumas vezes até pousados no parapeito do terraço; talvez, por isso não fosse difícil supor que estivessem por ali vigiando o tal filhote. Ele observou que aquelas aves eram bastante silenciosas, diferentemente de outros habitantes desses forros como os gambás, morcegos, corujas e outros. Não piavam, movimentavam-se muito pouco, mas deixavam uma sujeira danada.
Adriana e Iara também acharam muito estranha a descoberta de Frederico e decidiram buscar orientação na Polícia Ambiental, que aconselhou a retirada do bichinho do forro do telhado e sua soltura num  lote vago, com a certeza de que a mãe logo o encontraria.
E assim ocorreu o despejo do inquilino indesejado da cobertura, que saiu andando, puxado por uma cordinha no pescoço pelado.
Pelo jeito, vida de urubu não é fácil!
Belo Horizonte, outubro/2014.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS

“He amado hasta llegar a la locura; y eso a lo que llaman locura, para mi, es la única forma sensata de amar.” Françoise Sagan

sábado, 18 de outubro de 2014

O GAVIÃO E O GRIPEN
Na varanda da casa do Zuza, em frente a uma reserva verde especial do Ministério da Agricultura, em plena zona sul de Belo Horizonte, enxerguei um pássaro, tamanho médio, subindo sem bater asas. Logo lhe chamei a atenção para a imagem e ele, conhecedor dos planos aéreos, explicou ser um gavião em corrente ascendente de vento, que deveria levá-lo às alturas. De fato, naquela subida em círculos, a ave foi sumindo sem fazer força. Era como uma pluma ao sabor do vento.
Subitamente, nós a vimos mergulhar como uma flecha e entrar no meio das frondosas árvores até desaparecer. Imaginamos que teria visto alguma coisa comível. O ângulo da descida foi incrível: asas coladas ao corpo à semelhança de um Gripen, aquele jato supersônico comprado da Suécia e colocado a serviço da Força Aérea Brasileira.
Gavião é o nome popular dado a várias espécies de aves falconiformes pertencentes às famílias accipitridae e falconidae, em particular dos gêneros leucopternis, buteo e buteogallus. De hábitos diurnos, o gavião-real tem uma visão privilegiada, com uma resolução oito vezes maior que a do ser humano. Um super caçador!

O Gripen pertence a uma nova geração de aviões de combate, multifuncionais e altamente ágil, concebido para realizar uma ampla gama de missões operacionais.  O layout aerodinâmico avançado do Gripen combina uma asa delta com o estilo canard, e faz uso extensivo de materiais avançados e técnicas de construção. Para reduzir peso e maior durabilidade de cerca de 20% em peso da estrutura da célula é fabricado a partir de materiais compostos de fibra de carbono. Um super caça!


FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS

A diferença entre um estadista e um demagogo é que este decide pensando nas próximas eleições, enquanto aquele decide pensando nas próximas gerações. 

Winston Churchill 





sábado, 11 de outubro de 2014



DIA DAS CRIANÇAS 2014
Neste Dia das Crianças, volto à história das pescarias porque encontrei uma foto que ilustra aquela crônica e ainda retrata as minhas crianças, Pedro (40) e Frederico (39), com seus bambuzinhos à beira do laguinho do Pasto da Carreira Comprida, em Santa Luzia. Agasalhos Adidas, bem na moda!



Os dois foram crescendo felizes – espero! -, transformaram-se em homens fortes e responsáveis e casaram-se com excelentes mulheres: a Luciana, do Pedro; e a Adriana, do Frederico. Estes me deram dois lindos netos, Rafael e Iara.


Todos aqui retratados formam um conjunto familiar que não poderia faltar no registro dessas minhas histórias.

 
 E viva a vida!                     

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
“A música me deu tudo e eu não correspondi. Perdoe-me, querida.” Roberto Brandão

















sábado, 4 de outubro de 2014

IV CENTENÁRIO DA CIDADE DE SÃO PAULO
Já se passarem 60 anos da data em que foi comemorado o quarto centenário da cidade de São Paulo, 1954.
Para nós, que lá morávamos na Rua Teodoro Sampaio, 316 Apto. 6, esquina de Arruda Alvim, no bairro Pinheiros (foto abaixo), foi um ano de muita festa e diversos eventos, com a inauguração do Parque do Ibirapuera, onde foi instalado o 1º. Salão do Automóvel, com a exibição dos carrões americanos e europeus e, entre os exemplares brasileiros, somente a Kombi e o caminhão FNM, se não me falha a memória.
Junto com o Parque veio a Bienal, naquele prédio estranho como no feitio de um ovo emborcado, surpreendentemente, com diversos andares que se interligavam por rampas abertas no seu interior. Modernismo autêntico!
Eram tantas as atrações que não queríamos perder nenhuma. Lúcia, minha irmã, e eu estudávamos no horário da manhã, no Ginásio Castro Alves, bem pertinho de casa. À tarde nos aprontávamos para mais um passeio ao Ibirapuera.
Na mesma ocasião, realizou-se a 1a. UD - Feira de Utilidades Domésticas, instalada num pavilhão ao lado do Salão, apresentando somente produtos importados: fogões, máquinas de lavar roupa e louça, ferros elétricos, ventiladores, rádios elétricos e de pilhas, televisores p&b  - cuja maior tela era de 21 polegadas -, geladeiras, liquidificadores, batedeiras de bolos,  aquecedores a gás para cozinha e banheiro e mais um sem número de quinquilharias para a cozinha, que nem sabíamos para que serviam. Naquela época, não existia uma indústria brasileira e foi em São Paulo, dali pra frente, que começou a instalação do maior parque industrial do país.
Nossa televisão, da marca SEMP, que papai e mamãe haviam trazido dos Estados Unidos em 1951, transformou nosso pequeno apartamento num verdadeiro centro de atração para a vizinhança. Eles chegavam de todos os lados: do nosso prédio, da rua em frente, enfim, de todo o quarteirão, para o que ficou convencionado chamar de "televizinhos". A programação da tv era composta por filmes americanos, desenhos animados e alguns programas de auditório ao vivo, claro, montados nos estúdios da TV Tupi, no alto do Sumaré, também muito  perto lá de casa.
Naquele ano, a famosa Corrida de São Silvestre, disputada nas ruas de São Paulo na madrugada de 31 de dezembro para primeiro de janeiro, foi vencida por Emil Zatopek, cognominado como "a locomotiva tcheca".
Era um tempo bom aquele, de total inocência e de muita vontade de viver, que ficou conhecido pelas gerações posteriores como "Os anos dourados".
The times they are a changing, como já dizia Bob Dylan.
Belo Horizonte, setembro/2014
rhbrandao@gmail.com
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Foi a infância da minha velhice. Fernanda Torres, no romance Fim



Esquina da saudade, Teodoro com Arruda Alvim
                  Meus amigos de São Paulo, na época do IV Centenário, Zezé e Marília
             Ruy, Ná e Zezé
           Jalil, Geninho e Robertão

sábado, 27 de setembro de 2014

AS PESCARIAS DA VIDA
Desde pequenos, meus filhos, Pedro e Frederico, se interessaram por pescaria. Em toda oportunidade que aparecia, pegávamos nossas varinhas de bambu e nos embrenhávamos na mata em busca ou de um córrego ou riacho, para pescar.

Fazenda Boa Esperança em Santa Luzia/MG, em 1947
Tudo começou em Santa Luzia, cidade vizinha de Belo Horizonte. Lá, frequentávamos a Fazenda Boa Esperança da família Andrade, onde o Dr. Célio tinha uma gleba.  Era o programa de fim de semana. Juntávamos nossas roupas de mato, botinas, bonés, espingarda de chumbo e canivetes e partíamos para o saudável lazer.
Naquela época, pescávamos num laguinho no Pasto da Carreira Comprida, onde os meninos costumavam se emocionar ao fisgar uns lambarizinhos de 3 a 4 centímetros, com iscas de minhocas, catadas ali mesmo. Ainda arriscávamos alguma pescaria, muito sem graça, num córrego que corria no fundo da casinha de campo, que havia construído naquelas plagas. No Rio das Velhas, limítrofe da fazenda, nunca ousamos.
O tempo foi passando e numa tarde em Cabo Frio, à beira do Canal, decidimos arriscar uma pescaria em água salgada. Imaginamos a dificuldade, o tamanho maior dos peixes, e fomos animados comprar o equipamento, composto de varas profissionais com carretilha, linha mais grossa e anzóis próprios. No Mercado dos Peixes, debaixo da ponte, compramos também pequenos camarões como iscas.
Postamo-nos na encosta, ao lado da ponte, e ficamos banhando dúzias de camarões até que o Pedro, num lance, fisgou o primeiro peixe. Excitadíssimo, puxou-o para a margem. Parecia uma garoupa de uns 10 cm. Diferente dos pescadores de verdade que anunciam o peso do peixe, só podíamos informar o tamanho deles, pois não pesavam quase nada. Logo depois, o Frederico também puxa outro, que parecia uma pequena sardinha. Estou inventando o nome dos peixes, pois, não entendo nada disso. Aliás, não entendo nada de coisa nenhuma.
Assim, passamos uma tarde agradabilíssima. Voltamos para casa com o samburá cheio de peixinhos de água salgada e eu disse aos meninos: Vou fritá-los como tira-gosto para o jantar. Esses peixinhos são bons porque são fáceis de preparar: abre-se a barriga deles, retiram-se as entranhas, tempera-se com sal, limão, pimenta-do-reino e torra-se no azeite. Uma delícia!
O tempo continuou passando, inexorável, e quase não pescamos mais juntos até que, na semana passada, recebo do Frederico a foto com o resultado da tarde de sábado, num Pesque&Solte de Pedro Leopoldo.
 Que tal? E o peso: 18,5 kg.

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS 
Viajar é a única coisa que você compra e que te deixa mais rico.” (Anônimo)


domingo, 21 de setembro de 2014

HIDRA, POROS E AEGINA
Embarcamos num navio pequeno, quase um iate, para um passeio pelas ilhas gregas de Hidra, Poros e Aegina, bem fronteiriças ao Pireu, porto de Atenas. Era uma linda manhã mediterrânea, céu azul e bem claro, poucas nuvens. A embarcação servia de transporte para os habitantes das ilhas, portanto, não era um barco turístico, e essa convivência com o povo da terra é muito interessante, mesmo que por breves momentos.
Na minha condição de estrangeiro, podia até reparar mais um pouco nas pessoas e seus hábitos, na sua maneira de ser no dia-a-dia, sem ofendê-los.
Observei que os gregos - o povão - são muito humildes em tudo; por exemplo, aqueles simples lavradores em suas pequenas propriedades, ali em Poros, uma das ilhas que, talvez, tenha um dos maiores cultivos de pistache do mundo, pois todas as árvores são desse fruto que é muito gostoso principalmente se consumido fresquinho, no pé. Lá, também devem ter o hábito de convidar os amigos e vizinhos para comer pistache no pé, como aqui em Sabará na época das jabuticabas. Será?
Já na primeira ilha, Hidra, a maior delas, muitos velhos, homens e mulheres sentados à porta de suas casas, embrulhados em colchas sobre as roupas, pois já era dezembro e o inverno havia chegado pra valer. Aquela gente ficava ali o dia inteiro desfiando terços de enormes contas e murmurando suas rezas. Só se via o movimento dos lábios e os dedos correndo pelas contas numa atitude curiosa, demonstrando fé inabalável na oração, com os olhos semicerrados. Muito esquisito! Enquanto isso, os jovens - todos pescadores, condição principal de quase toda a população mediterrânea -, lançavam suas enormes redes a poucos metros das praias de pouca areia e muita pedra, expondo logo os cardumes variados de diversas espécies de peixes, mais camarões, arraias e lagostas. Uma fartura!
Brincamos que mais tarde iríamos jantar uns daqueles, num dos restaurantes no Pireu. Passeamos por toda a ilha, subindo morros em estradas rústicas de terra e areia, observando uma gente perdida naquele fim de mundo.
Aegina, a menor das ilhas, nos proporcionou um bom almoço com moussaka e ouzo, e mais um passeio pela bela orla praieira.
Belo Horizonte, agosto/2014.

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS  
"Quando eu era um garoto de 14 anos, meu pai era tão ignorante que eu mal suportava a presença do velho. Mas, quando cheguei aos 21, fiquei espantado com o quanto ele havia aprendido em sete anos." Mark Twain 



sábado, 6 de setembro de 2014

SEMANA DA PÁTRIA
Na Semana da Pátria me vem à lembrança um episódio familiar de grande orgulho para nós e com final feliz. Foi quando o Brasil aderiu aos “aliados” e habilitou-se a entrar na Segunda Guerra Mundial, compondo as forças armadas, que lutariam na Europa contra o regime nazifascista, em pleno domínio naquele continente. Morávamos em Ijuí, no Rio Grande do Sul, onde o papai era 1º. tenente-médico do Exército, e nosso tio, Antônio Dutra Ladeira, também tenente do Exército, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Lúcia e eu ficamos apavorados, imaginando que o papai poderia ir para a guerra.
Felizmente, ele não foi; mas soubemos, por uma tardia carta da tia Lulinha, irmã dele, que o tio Antônio, marido dela, este sim havia se voluntariado para compor o regimento dos “pracinhas”, que iriam para a Itália lutar na Força Expedicionária Brasileira. Lembro-me de que o papai louvou o gesto do cunhado, porque ele mesmo não iria nem convocado, nem amarrado.
Lúcia e eu éramos muito pequenos, mas a importância da GUERRA era um assunto que dominava todas as rodas, até a das crianças.
Soubemos do embarque do tio Antônio num destroyer da Marinha do Brasil, no porto do Rio de Janeiro. Ele e os heróis antecipados seguiram para uma luta que não era a nossa; muito menos, deles.
Certo dia, ainda em Ijuí, recebemos a notícia da volta dele, promovido a capitão, são e salvo e do fim daquela guerra absurda. Nossas preces devem ter tido valia, pois toda noite - quando o papai voltava do quartel e tirava as botas -, mamãe nos reunia e ajoelhávamos para rezar para que não acontecesse nada com o tio Antônio e que ele ajudasse a acabar com a guerra. Tenho certeza de que também ele, como um herói anônimo, ajudou na imposição da paz no planeta. Muito obrigado, tio Antônio, major do Exército Brasileiro.
O primeiro filho dele, o Márcio Flávio, nasceu no dia 7 de setembro. Seria uma homenagem do Criador pelo patriotismo dele?
Parabéns, Marcinho.
Em Belo Horizonte, setembro/2014

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
“Contra a estupidez, os próprios deuses lutam em vão.” Friedrich
Schiller (escritor alemão 1759-1805)

                  Tenente Antonio Dutra Ladeira



sábado, 30 de agosto de 2014

UM PUBLICITÁRIO NA FRANÇA
Em Paris, de tanto frequentar a Brasserie d`España, fiquei amigo do dono, Juan, um espanhol gentilíssimo, também tocador de violão, naquelas bandas conhecido como guitarra. Todas as noites revezávamos com repertórios variados, comigo levando um pouco de bossa-nova e american songs, e ele, con los acordes calientes de la canción flamenca.
Foi uma temporada ótima, pois eu morava relativamente perto, na rue Robert de Fleurs e a brasserie ficava no Boulevard Montparnasse, coisa de três quarteirões, o que evitava maiores  transtornos  na volta para casa, dependendo do estado etílico. A bebida servida era sempre o vinho e o meu, oferta da casa, descia sem reservas. O grau alcoólico de 13,5 - 14,0 era suficiente para me deixar embalado com a primeira garrafa daquele Bordeaux perfeito.
Geralmente, durante o dia fazia uma visita ao Louvre para ver uma ala ainda desconhecida ou ficava vagando pela rue de Rivoli, Place de la Concorde e Avenue des Champs Elyseés como um perfeito clochard perdido pelas ruas da encantadora cidade. Noutras tardes, depois das cansativas reuniões na Peugeot Cycles, nos arredores da cidade, sentava-me numa mesinha solta no meio dos jardins das Tulherias para tomar um dubonet, bebida típica dos vagabundos locais. 
Era curioso porque, naquele tempo, não havia internet e minha comunicação com o Ronald, meu sócio em Belo Horizonte, era feita por telefone, então caríssimo nas ligações internacionais. Ficávamos conversando como se estivéssemos passando telegramas: monossilabicamente. Quando eu precisava de uma informação mais contundente, uma orientação quanto ao andamento do negócio, ele simplesmente respondia: “Ah, Roberto, faça como você achar melhor. Ciao!”
Naquela época, a prefeitura de Paris já estava começando a oferecer o aluguel de bicicletas públicas a fim de descongestionar o pesado trânsito nas regiões centrais. Estou vendo agora, em Belo Horizonte, alguns pontos com estas bikes disponíveis. Ao lado da Toca, na Praça da Liberdade, em frente ao Xodó, já colocaram um ponto com mais de 10. E, parece, na Praça da Estação tem também um ponto.
Belo Horizonte, agosto/2014
rhbrandao@gmail.com
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS

“ Uma valsa e um vinho, sempre pedem bis ”. Johan Strauss

sábado, 23 de agosto de 2014

BELO HORIZONTE COR DE ROSA
Subi a Rua Sergipe e cheguei à Praça da Liberdade quando tive um choque visual. Todos os ipês rosa da praça estavam floridos. São uns vinte dessa árvore que ali florescem no inverno. No meu caminho em direção ao bairro Buritis, fui sendo surpreendido praticamente em cada esquina.
Acho que foi em meados do século XX que essa árvore foi plantada praticamente em cada rua do grande centro de BH. A cidade florida extemporaneamente é um presente da natureza para os nossos olhos admiradores das belas cenas.
Nessa pequena rota vi também alguns ipês amarelos, mas não tão exuberantes como os rosa.
No miolo da Avenida do Contorno e ao longo de toda a Avenida Brasil outros exemplares floridos.
Essa linda árvore perde totalmente as folhas e se apresenta como um buquê de flores, delicadamente cor de rosa, sustentadas pelos ramos escuros, dando essa sensação de um ornamento montado por mãos habilidosas e criativas.
Lembro-me de que, na varanda do apartamento da Sônia, de onde se tem uma visão deslumbrante da Serra do Curral, o Zuza comentou sobre a sugestão que gostaria de fazer ao prefeito: semear no pé da serra árvores com florescências variadas, de maneira que aquela região oferecesse uma visão colorida a cada estação do ano. A ideia é brilhante.
Que tal a sugestão, prefeito?
Belo Horizonte, agosto/2014

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
"Toda criança é artista. O problema é como continuar a ser artista depois de crescer." Pablo Picasso





sábado, 16 de agosto de 2014

                                           Bluegrass Group
GRAND OLE OPRY
A música, minha maior paixão, sempre me persegue e com este ímã vou andando por aí atrás dela.
Chegamos a Nashville, no Tennessee, nos Estados Unidos, numa clara manhã de outono, céu azul e um friozinho civilizado de 5 graus. Uma delícia! Na ocasião, estava programado o maior evento musical do país: O Grand Ole Opry. Opry é uma corruptela da palavra ópera, para mexer com os nova-iorquinos, que, simultaneamente, recebem e apresentam uma grande companhia operística.
Em Nashville, em contraponto, o Grand Olé Opry é, por assim dizer, uma reunião de cantores e bandas - excursionando por diferentes pontos do país - que num determinado dia ali se encontram e se juntam para tocar e cantar, como se numa ópera bufa, sem enredo.
Com os ingressos oferecidos pelos Partners of the Americas, incitei os meus amigos, também apreciadores da boa música, para o evento: o Henry, a Gilda, o Risley (Rusty), a Helena e o Eduardo; pela ordem, um americano, uma equatoriana, outro americano morador da cidade, uma salvadorenha e um deputado equatoriano. Que turma!
Tomamos uns drinques no hotel e partimos para assistir ao maior show de country music, bluegrass, farmsongs e standards da maravilhosa música americana. Lá, estavam juntos - vejam só! - Earl Klug, Cat Stevens, Judy Collins, Don Williams e muitos outros dos quais nunca tinha ouvido falar.
Na volta ao hotel, fizemos our private session: eu, no violão, acompanhando os cantores Gilda e Jim, além de alguns eventuais aventureiros.
Não é à toa que o slogan de Nashville é The Music City. What a night!
Belo Horizonte, agosto/2014
rhbrandao@gmail.com
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
As saias sobem e descem, as pernas ficam. Bete Davis 


domingo, 10 de agosto de 2014



OVNIS?
Domingo passado, dia 3 de agosto, toquei a campainha na casa da tia Marina e fiquei olhando para o céu, como sempre faço. De brigadeiro, como dizem. Azulíssimo, nenhuma nuvem e nem os aviões de carreira na rota do Rio e de Vitória.  Reparo então numa elipse branca, chatinha, muito veloz, na mesma direção. Será um OVNI?
Fui acompanhando a branquinha quando atrás dela surge outra elipse amarela, cor de ouro, cintilante no espaço. Um pouco mais veloz, como em perseguição à branca.
Felizmente, a Jandira, naquela marcha octogenária, demorou a abrir o portão, e ainda pude seguir as duas naves até que se acoplaram. Só pode ser acoplamento porque a branquinha sumiu dentro da amarela, que a engoliu.
Também engoli seco quando a Jandira me perguntou: Porque cê tá assustado, Roberto?Cê tá cuma cara de quem viu fantasma - ela falou.
Ainda na direção do Rio, vi a bola maior, a amarela, sumir atrás da Serra do Curral. Fiquei curioso e liguei para o meu orientador a respeito de objetos voadores não identificados, o Zuza, que não atendeu o celular.
Fechando o cadeado do portão fiquei cabreiro e na expectativa de ver a notícia no “Fantástico” e nos jornais do dia seguinte, que não trataram do assunto. Um mistério nos céus de Belo Horizonte.
Pensei, depois, que o amarelinho poderia ser um tucano contratado pelo Aécio para sua propaganda política, engolindo a concorrência de uma vez por todas. Seria muito bom!
Belo Horizonte, 9/agosto/2014.

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS

"O homem pode acreditar no impossível, mas nunca acreditar no improvável". Oscar Wilde (1854-1900)