Atuá kamba
No final do
século XIX, o português Manoel Corrêa da Costa comprou uma gleba de terra no Estado
do Mato Grosso, casou-se com uma índia, raptada da tribo dos Apiacás, e
reproduziu uma enorme prole de mestiços que se estabeleceram em diversos pontos
do Brasil.
O mais velho, a
quem registrou com o nome de Manoel Hermeto Corrêa da Costa, se debandou para o
Rio de Janeiro, indo trabalhar numa
fábrica de tecidos. Com o tempo, foi chamado para abrir uma filial da fábrica
em Lavras, no sul de Minas, onde conheceu Maria Augusta, vinte anos mais nova, menina
muito educada e habilidosa na costura e na cozinha. Outra grande prole se formou
ali, filhos herdaram o nome próprio do avô: Hermeto. Somente alguns desta nova
prole mantiveram o sobrenome da mãe, Pádua Costa, outros mantiveram o do pai,
Corrêa da Costa; porém, as gerações seguintes aboliram os sobrenomes compridos
e adotaram o Hermeto como nome de família.
Foram onze os
irmãos Hermeto que, nesta rápida história de família, resolvi chamá-los de
“nucas pretas” em homenagem a minha mãe, que foi quem descobriu essa
curiosidade familiar.
Quando os cabelos
dos Hermeto vão começando a embranquecer, resta-lhes uma faixa de cabelos mais
escuros na nuca. Mamãe havia notado nos cabelos dela, nos da Lúcia, minha irmã,
e nos meus.
No domingo passado,
quando nos encontramos para um café na casa da Tia Marina, constatamos que a
Hyla, a mais velha das primas, ali presente; o meu primo Maurício, o mais velho
dos primos homens vivos, e eu também ostentávamos a risca preta na nuca. Então,
com cuidado, pesquisei a cabeça da tia Marina e ali descobri uns poucos
fiozinhos pretos na nuca apesar das suas 98 primaveras. Marca de família, quem
sabe?
Em tempo: “Nucas
pretas”, numa versão livre para o tupi-guarani é “atuá kamba”, em homenagem à
nossa bisavó india.
Belo Horizonte,
julho/2015.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
“O homem deve ser
reinventado a cada dia.” Jean-Paul
Sartre
Um comentário:
Parece-me que o Manoel Hermeto Corrêa da Costa, casado com a Maria Augusta, é o sexto filho do Tenente Coronel Honorio Hermêtho Corrêa da Costa, negociante radicado em Formiga (MG), nascido por volta de 1809 e falecido em Formiga no ano de 1876. Não descobri ainda onde nasceu e de quem era filho esse Honorio, mas é sabido que ele se casou na segunda metade da década de 1830, em Formiga, com Hermelinda Hermetha de Jesus, filha do português Manoel Teixeira de Magalhães Leite e da mineira Maria Eugenia de Jesus.
Não consegui localizar a data e o local exato do nascimento de Hermelinda. Foi por volta de 1820, ou em Formiga, ou em Sabará. O avô materno dela, o português João Moreira Ribeiro, viúvo, mudou-se de Sabará para Formiga nesse período e lá se casou pela segunda vez. Era cirurgião.
Honorio Hermêtho teve 12 filhos: alguns faleceram na infância. Perco o rastro de sua descendência depois que eles deixaram Formiga. Um dos irmãos de Hermelinda (Manoel Teixeira de Magalhães Leite Junior) foi presidente da Câmara e município de Formiga por dois mandatos (1861-1869). Na década de 1870, ele e os irmãos deixam a cidade: espalham-se para o Rio de Janeiro, Guaratinguetá e Campo Belo (MG).
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