sábado, 28 de novembro de 2015

O NOVO VERBO “CISCAR”
Minha avó Augusta chamou-me e disse: “Roberto, pegue um pouco de milho lá na cozinha e jogue pras galinhas. Elas estão ciscando muito”.
Cabreiro, peguei o saco de milho e fui para o quintal. Logo, as galinhas, frangos, galos e pintinhos foram me seguindo, enquanto eu distribuía o milho. Já conhecia aquela cena com a vovó, meus tios ou a minha irmã Lúcia, que também costumavam tratar dos bichos, quando estes ficavam picando o chão, descontroladamente, buscando uma semente ou algum alimento entre os gravetos, ciscos, lixos etc. Aquilo sim a gente sabia que era “ciscar”, ou seja, as aves limpavam o chão, catando a própria refeição. Uma cena comum de antigamente, que acabou despertando a criatividade das pessoas que, hoje, encontraram uma nova leitura para o verbo “ciscar”.
Caminhando na praça, vejo pessoas assentadas nos bancos com o dedo indicador batendo sobre a tela de seus telefones, tablets e outras máquinas, no mesmo ritual das galinhas... ciscando. Alguns, incontroláveis, vão caminhando e ciscando nos seus aparelhos; outros, aguardando nos pontos de ônibus ciscando; dentro dos ônibus, passageiros também ciscando.
Quando retorno ao prédio onde moro, o porteiro está ciscando sobre a mesa; a faxineira, encostada com uma vassoura debaixo do braço, ciscando; o entregador de alguma encomenda conversando com o atendente e ciscando; alguém esperando um morador, assentado na poltrona, ciscando; o outro, esperando o elevador e ciscando.
É, acho que voltamos à era das galinhas e vamos ciscar por muito tempo até que descubram uma maneira dos olhos acionarem os comandos das máquinas. Será?
Belo Horizonte, novembro 2015.  Foto Google
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
“Os cacos da vida quando se juntam formam uma estranha xícara.” Carlos Drummond de Andrade




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