ACONTECEU OUTRO DIA!
Quando chegamos na Av. Rebouças, ajustamos os patins de metal, quatro rodinhas, com a tira de couro que passava por sobre o peito do pé e era afivelada transversamente. E ficavam firmes mesmo. Era uma aventura e tanto! Estávamos a caminho de um parque que seria inaugurado para as festas do 4º. Centenário de São Paulo.
A área do parque estava sendo reflorestada. Eram milhares de mudas de árvores escolhidas para um projeto vencedor num concurso que a Prefeitura de São Paulo havia promovido para a construção de uma área de lazer multiuso chamada de Parque do Ibirapuera. Na mesma área do parque construíram ainda o prédio que, hoje, abriga a Bienal - um prato emborcado -, um pirulito comemorativo da Revolução de 1932, um galpão enorme para abrigar a I UD-Feira de Utilidades Domésticas e outro, igualmente grande, onde estava montado o primeiro Salão do Automóvel. O ano era 1954 e o dia, 25 de Janeiro.
Descer a Av. Rebouças, naquele dia, era bem complicado, no entanto, muito menos difícil do que fazer isto hoje, 59 anos depois. Lembrei-me desta aventura porque hoje, 25 de janeiro de 2013, comemora-se o 459º aniversário daquela cidade, tão importante na minha formação humana e intelectual.
Com muito medo, o Pick, quase irmão, e eu, descemos a Rebouças, viramos na Brasil e, com todo o vigor dos nossos 13 anos, chegamos ao Ipirapuera.
Ficamos perplexos com um lago artificial que haviam criado no meio do parque, cheio de peixes e com uma variedade enorme de patos e outras aves aquáticas.
Estávamos cansadíssimos, suarentos, famintos e muito curiosos sobre aquela nova maravilha paulista. Lembro-me que jogamos os patins no ombro e, no ambiente do parque, buscamos alguma barraca que fornecesse sanduíches, refrigerantes e cervejas. Comemos um hambúrguer com cerveja - daquelas de garrafa, é lógico -, na primeira, e continuamos tomando cerveja em cada uma das muitas barracas ao longo do parque.
Infelizmente, não temos qualquer registro do acontecimento, pois àquela época uma máquina fotográfica tinha que ser contratada com o profissional que soubesse manejá-la com precisão.
Ao final da nossa maratona quatrocentona, tivemos que entrar numa padaria, na Rua Estados Unidos, pedir para usar o telefone e ligar para casa, convocando o papai para ir buscar-nos, no possante Mercury 1950, verde.
Estávamos bêbados e cansadíssimos para fazer o caminho de volta com os patins nas costas, que pareciam feitos de chumbo.
Ricordare vivere.
Belo Horizonte, no quadricentésimo, quinquagésimo nono ano da fundação de São Paulo.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Velejar tem uma poesia tão antiga quanto o mundo.
A. S. Exupéry
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