quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

NATAL A SÓS?

Dia destes, fui convidado a participar de um seminário sobre “Desenvolvimento Internacional”, na Jamaica.  Aceitei prontamente, mas fui pego de surpresa. Todas as companhias aéreas que voam para o Caribe têm que pousar primeiro em Miami. Na ida e na volta. Todos os voos são via Miami. De qualquer forma, pensei, é só para trocar de avião e isto leva,  no máximo, uma hora.
Embarquei feliz, pois ia conhecer mais um novo lugar no planeta.
Em Miami, a conexão para a Jamaica foi imediata. Foi só tirar a mala de um avião e passar para o outro.
A primeira parte do seminário foi em Ocho Rios, ao norte da ilha e com poucas atrações, praias razoáveis e comida diferente. Alguém já ouviu falar em ackee? É uma frutinha que, preparada com bacalhau , dá um sabor especial ao prato típico da ilha. Nunca vi nada parecido por aqui. Trocadilho infame, hem?
Entre palestras e debates, passamos uma semana formidável.
Mas o Natal estava chegando e resolvemos marcar nossas passagens aéreas para a véspera. Assim, cada um passaria o Natal em casa.
No dia 23 de dezembro, embarcamos em Kingston para fazer a tal baldeação em Miami e chegar à terra pátria.
Acontece que o meu visto de entrada nos Estados Unidos estava vencido e comecei a viver uma situação bem diferente.
De cara, fui levado para uma sala de espera trancada. Era até bem grande, pois estavam ali, na mesma situação que eu, pessoas de todas as idades, nacionalidades, raças, credos e  cores.
Um grupo bem alegre parecia de italianos, pois de longe era possível vê-los gesticularem sem parar. Cheguei mais perto, ouvi e vi a deliciosa língua em sons e gestos. Tutti buona gente.
Num canto, um casal sisudo de louros jovens. Alemães,  ainda com o cheiro da batata assada e do “chucrute”. Sig Heil.
No outro, um grupo de camisetas e bermudas iguais com a inscrição Barbados. Fiquei pensando... Será que eles estão fazendo uma excursão pelo Caribe? Que falta total de imaginação! É como se nós, de Belo Horizonte, resolvêssemos pegar uma jardineira e fôssemos viajar pelo roteiro Betim, Baldim, Pati do Alferes, Porto Novo do Cunha e Crucilândia. Que  fim de semana bárbaro!!! Saludos muchachos!
Com isto, fui me distraindo e não percebi que o meu voo tinha sofrido um atraso  e que só iria embarcar às duas da manhã, portanto, depois da meia noite.
Os grupos foram embarcando, a salona de espera foi ficando vazia e restou somente uma família de japoneses. Impassíveis,
aguardavam o chamado para embarque. Também,  não
estavam nem aí para a passagem do dia 24 para 25. Dias normais no calendário budista. Arigatô, amigos,  pela fria companhia nessa estranha noite de Natal.
Já conformado com a situação, tratei de localizar uma daquelas máquinas que fornecem comidas e bebidas variadas. Encontrei algumas. No entanto, elas só continham sanduíches e gelatinas, com uma boa variedade de refrigerantes.
Nada de peru assado, arrozinho branco, frutas da estação, muito menos castanhas, avelãs, pistaches y otras cositas más. Quem sabe um bom espumante? Nada. Um vinho seco? Nem pensar!Uma garapa qualquer? Nem isto. Cerveja, claro, para tomar um porrezinho leve? No beer at all.
Era só refrigerante e suco de laranja, uma verdadeira tragédia.
Subitamente entra na sala uma lindíssima mulher, casaco de pele, saltos muito altos e extremamente elegante, escoltada por dois guarda-costas que não lhe tocavam, mas tinham os olhos fixos em todos seus movimentos. Os brutamontes entregaram os documentos dela ao atendente no balcão de embarque,  recomendaram alguma coisa que não ouvi e foram embora. E ela ficou só. Trocamos um olhar.
A um chamado para Tóquio, os japoneses atenderam em fila indiana, mulheres na frente, homens atrás e partiram. Saionara!
Na imensidão do Aeroporto de Miami, portanto, sobramos nós dois, a bela e eu, pois os atendentes também pediram licença e foram  para o escritório do gerente do aeroporto para uma confraternização de colegas. Trancaram a porta e nos desejaram Merry Christmas.
Assim, passamos um Natal a sós e muito bem acompanhados.
Sya.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS

Depressão é o excesso de passado e ansiedade é o excesso de futuro, entonces, vamos a vivir porque para dormir hay siglos. 

sábado, 19 de dezembro de 2015




ARRAZZEI
Outro dia, manifestei-me numa roda, que estava precisando de um cheiro, com o argumento de que todo velho tem que cheirar bem, vestir-se com camisas e calças bem passadas, na cor da estação, meias limpas, sapatos engraxados, cabelos e unhas bem cortados, enfim, tem que estar “nos trinques”, senão ninguém olha.
Uma das presentes logo se dispôs a ceder-me um Azzaro, perfume marcante de algumas décadas atrás, embora já usado e não do agrado dela. Uau! Aceitei na hora. Embora não conhecesse o aroma, a fama do perfume me deixou animado. Pensei: de um perfume famoso qualquer gota serve!
Peguei a “relíquia” e, no entanto, o efeito era quase nenhum, não fixava e acabei constatando que a essência não era condizente com a fama. Encostei o vidro no banheiro e, de vez em quando, arriscava umas gotinhas atrás das orelhas, sem qualquer resultado prático.
Até que um dia, meu filho Frederico mostrou-se interessado num determinado perfume, perguntando-me se eu o conhecia. Era o tal Azzaro. Claro que eu o conhecia e até poderia ceder o meu pra ele. “Uai, pai, então vou buscá-lo aí, agora, e ainda troco por outro que ganhei e não gostei”. Coloquei a “jóia” numa sacolinha e fui esperá-lo na porta da garagem, pois estava numa correria danada e não poderia subir à Toca. Ele já chegou com o braço pra fora da janela do carro, louco para experimentar o cheiro desejado. Entreguei-lhe o vidro e ele, num relance, falou: “Ô, pai, este não é Azzaro. Olha aqui o que está escrito no vidro: “Colônia masculina ARRAZÔ”. E, para confundir mesmo, com a mesma letra do original.”
Fiquei arrazado.
Belo Horizonte, dezembro/2015
Foto Google.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
“Não quero saber de suas leis, quero saber de seus intérpretes.” Martin Luther King


NOTÍCIA AUSPICIOSA
CHAMPAGNE PODE PREVENIR ALZHEIMER –
Composto encontrado nas uvas Pinot Meunier e Pinot Noir

teria ação contra a perda de memória. Fonte: Vinotícias 502015

sábado, 12 de dezembro de 2015

QUE CHUVA BOA!
Nesta secura em que estamos vivendo, um pouquinho de chuva é sempre bem-vindo. E hoje, saindo do barbeiro - que hoje eles chamam de cabeleireiro -, fui surpreendido por uma chuvasca danada. Saí pela rua até o meu carro, estacionado a um quarteirão, como se estivesse passeando na Savassi em dia de sol. As pessoas correndo e se escondendo debaixo de marquises e eu, tranquilo, passeando e olhando as vitrines. Consequência: fiquei ensopado. Mas, tudo tem suas compensações.
Peguei o automóvel e, entre buzinas e esbarrões, cheguei à Toca. Na hora, lembrei-me de que toda vez que chegávamos em casa molhados pela chuva, mamãe corria a nos abraçar e dizia: “Rápido, filhinhos, tirem esta roupa ensopada e tomem um golinho de whisky pra esquentar o peito”. E era o que fazíamos, a Lúcia, minha irmã, e eu. Conselho de mãe, para nós, era uma ordem.
Assim, hoje, tirei a camisa, torci bem, dependurei no banheiro e fui correndo buscar um cálice pra tomar o tal golinho. Por sorte, eu tinha uma garrafa de Jack Daniels, meu preferido, que havia ganhado (ou ganho?) do meu filho. Uma bênção!
Tomei o primeiro gole para esquentar, e mais outro e mais outro, e lembrei-me de que, numa viagem de ônibus, nos Estados Unidos, da Carolina do Norte até Miami, numa noite gelada de janeiro, consegui tomar uma garrafa inteira do mesmo Jack Daniels, cow-boy, sozinho e sem cálice. Sozinho, não; carregava comigo o meu inseparável companheiro, o violão. E entre uma canção e outra, tomei a garrafa inteira. Tão inspirado, cheguei até a compor uma música registrando o episódio que havia me livrado de uma pneumonia fora de hora e de lugar.
Bendita chuva!
FRASES.PENSAMENTOS E AFORISMOS

“Toda farinha vira pão mas nem todo pão vira farinha.” Roberto Rosselini 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

ADEUS PAPAGUENO IV
Herança dos meus tios José e Tonico, logo que me casei, decidi manter em casa um passarinho. Não que goste de pássaros engaiolados; mas os canários belgas nascem e são criados em gaiola para alegrar a vida de quem também vive engaiolado em casas e apartamentos diminutos. O bichinho é alegre e inofensivo, come alpiste, vitamina e uma mistura própria para a raça; bebe pouca água e enfeita e anima a vida dos solitários com seu canto bonito e descontraído.
Quando me mudei para a Rua Sergipe, carreguei o meu canário, já na geração IV. Desde o primeiro apartamento da Rua Chicago até agora sempre mantive um pássaro canoro para me ocupar em tratá-lo todas as manhãs e ficar aguardando seu delicioso gorjeio durante o dia. Nas minhas chegadas e partidas, dia e noite, eles sempre me receberam com um canto ou um pio, dependendo da hora. Isto porque os canários não cantam à noite, só piam.
Nesta semana, foi a vez da partida do Papagueno IV, que morreu mesmo feito um passarinho, caído no fundo da gaiola. Coitadinho, até pra morrer não deu trabalho. Embrulhei-o numa folha de jornal e o coloquei na lixeira. Simples assim.
A toca do Brandão ficou mais vazia. A presença daquela figurinha me trazia aconchego, um sentimento de chegar em casa e  me sentir acompanhado, registrado com um simples piado ou com uma sequência de gorjeios e trinados realmente confortadores e sinceros.
Foram mais de quarenta anos acompanhado pelos Papaguenos I,II, III e IV.
O nome foi sugerido pelo meu compadre Flávio Simão, referindo-se a um personagem-pássaro da ópera “A Flauta Mágica”, de Mozart.
Agora, estou aguardando ansioso o novo companheiro, o Papagueno V, para suceder o velho que me foi oferecido pelo meu filho Frederico, também doador do IV, que veio de Sete Lagoas, quando eles se mudaram para Belo Horizonte. Será que os canários de BH cantam diferente dos canários de Sete Lagoas?
Belo Horizonte, dezembro/2015.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS

“O homem é a mais insana das espécies. Adora um Deus invisível e mata a Natureza visível, sem perceber que a Natureza que ele mata, é esse Deus invisível que ele adora.” Hubert Reeves

sábado, 28 de novembro de 2015

O NOVO VERBO “CISCAR”
Minha avó Augusta chamou-me e disse: “Roberto, pegue um pouco de milho lá na cozinha e jogue pras galinhas. Elas estão ciscando muito”.
Cabreiro, peguei o saco de milho e fui para o quintal. Logo, as galinhas, frangos, galos e pintinhos foram me seguindo, enquanto eu distribuía o milho. Já conhecia aquela cena com a vovó, meus tios ou a minha irmã Lúcia, que também costumavam tratar dos bichos, quando estes ficavam picando o chão, descontroladamente, buscando uma semente ou algum alimento entre os gravetos, ciscos, lixos etc. Aquilo sim a gente sabia que era “ciscar”, ou seja, as aves limpavam o chão, catando a própria refeição. Uma cena comum de antigamente, que acabou despertando a criatividade das pessoas que, hoje, encontraram uma nova leitura para o verbo “ciscar”.
Caminhando na praça, vejo pessoas assentadas nos bancos com o dedo indicador batendo sobre a tela de seus telefones, tablets e outras máquinas, no mesmo ritual das galinhas... ciscando. Alguns, incontroláveis, vão caminhando e ciscando nos seus aparelhos; outros, aguardando nos pontos de ônibus ciscando; dentro dos ônibus, passageiros também ciscando.
Quando retorno ao prédio onde moro, o porteiro está ciscando sobre a mesa; a faxineira, encostada com uma vassoura debaixo do braço, ciscando; o entregador de alguma encomenda conversando com o atendente e ciscando; alguém esperando um morador, assentado na poltrona, ciscando; o outro, esperando o elevador e ciscando.
É, acho que voltamos à era das galinhas e vamos ciscar por muito tempo até que descubram uma maneira dos olhos acionarem os comandos das máquinas. Será?
Belo Horizonte, novembro 2015.  Foto Google
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
“Os cacos da vida quando se juntam formam uma estranha xícara.” Carlos Drummond de Andrade




sábado, 21 de novembro de 2015

IJUÍ, 1945
Numa manhã Lúcia e eu acordamos loucos pra pegar nossos velocípedes e correr pelo quintal da casinha onde morávamos em Ijuí, no Rio Grande do Sul. Passamos pela cozinha e a mamãe lá estava coando o café para o papai tomar e ir para o quartel bem alimentado: café com pão e manteiga, e um copo de leite. Enquanto ela preparava a mesa, ele vestia a farda com todos os seus botões e talabartes, para ajudar na montaria no cavalo Guri, um Pecherón que o Exército Brasileiro adotara para os Regimentos de Cavalaria. Era um cavalo branco, grande, muito fogoso, inteiro. A raça, de origem francesa, lhe atribuía características bem próprias para o serviço militar: macio de sela, muito forte e resistente e com boa tração. O Guri era um belo exemplar!
Naquela vidinha simples, o padeiro deixava na porta de cada casa na Vila do quartel, uma ração de pães para o dia - um pãozinho para cada morador, e um litro de leite, que vinha naquelas garrafas típicas. Mamãe mantinha uma pequena horta com alfaces, espinafres, couve, salsinha, cebolinha e tomates. Assim, nossas refeições eram simples e saudáveis, com arroz, feijão, frango e ovo do próprio galinheiro, complementadas com as folhas. O cardápio era único, variando, de vez em quando, com batatas fritas, cozidas ou puré, e muito raro, raríssimo mesmo, um bife. Curioso, não me lembro de comer macarrão naquela época.
Naquele dia, saímos de casa atrás dos velocípedes e não os encontramos. Voltamos desapontados e murchos, quando o papai falou: “Os ciganos devem ter roubado os velocípedes. Quando eu cheguei, ontem à noite, eles estavam começando a armar o acampamento ali no campo de futebol.” 
Quando o papai saiu, furiosos e curiosos, demos as mãos para a mamãe e fomos até o quintal para dar uma olhada no acampamento. Vizinho ao muro de fundo do nosso quintal havia um campo gramado onde a soldadesca jogava futebol nos fins de semana.
Naquele dia, havia lá um bando de umas mil pessoas, com duas barracas enormes em volta de uma tenda, onde havia dois fogões, com a lenha espalhada por todo canto. Parecia um hotel rústico. Numa das barracas dormiam os homens solteiros, e na outra, as donzelas, rodeados por diversas barraquinhas, onde ficavam os casais com os filhos menores. E a lenha servia, ainda, para as grandes fogueiras noturnas, pois o frio era bravo. Banheiros não havia. De acordo com a lenda, as necessidades eram feitas no espesso mato ao redor. “E o banho, mamãe?” perguntou a Lúcia. “Ah, minha filha, eles devem se lavar naquele rio que passa lá do lado do quartel do seu pai.”
De longe, fomos vasculhando com os olhos para todo canto e não vimos os velocípedes. Eles haviam sumido para nunca mais.
Belo Horizonte, dezembro, 2013.                                                                               Foto Google.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS

É melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que você é um idiota do que falar e acabar com a dúvida. Abraham Lincoln, 1809-1865

sábado, 14 de novembro de 2015

EL ALMENDRÓN - Fellows II
Numa praia deserta, em Puerto Plata, na República Dominicana, fui apresentado à maior castanheira que jamais vi, conhecida pelo apelido de el almendrón. A propósito, as almendras - em espanhol -, bastante frondosas e capazes de proporcionar uma sombra acolhedora, são muito comuns nas ruas de Belo Horizonte e nas praias pelo Brasil afora.
Pois bem, ali, debaixo daquela árvore enorme, junto com a minha colega Gilda, uma equatoriana de Guayaquil, fiquei imaginando sobre os países escolhidos para os próximos seminários a que iríamos comparecer. Naquela ilha caribenha, estávamos iniciando uma comunhão fraterna entre 20 profissionais latino-americanos e 20 norte-americanos, patrocinados pela Fundação Kellogg, para um programa de capacitação que objetivava a formação de líderes regionais a serviço dos Partners of the Americas.
Assim, nos três anos seguintes, tivemos a oportunidade de viver uma das melhores e mais importantes experiências de vida oferecidas a um pequeno grupo de profissionais liberais que, a cada seis meses, se reuniam para um encontro de dez dias num país qualquer da América Latina ou num estado americano ou brasileiro.
Faço questão de registrar tais acontecimentos neste blog como um relato
de minhas memórias e como um legado para os meus filhos e  netos, bem como para os leitores eventuais das minhas crônicas. Cada etapa, tenho certeza, foi uma nova lição de vida num país de língua e cultura diferentes ou num estado americano ou brasileiro, também diversos em hábitos e costumes de seus pares.
Comentando com um casal de amigos sobre essas super oportunidades que surgem em nossas vidas, contaram-me que o filho, Saulo, engenheiro cursando uma faculdade em Budapeste, na Hungria, é um dos 88.000 bolsistas do “Programa Ciências Sem Fronteiras”, e tem aproveitado para conhecer toda a Europa, a Rússia, a Turquia e adjacências, enquanto bolsista. Lembrei-me de que conosco, do Fellows II, não foi diferente. No caminho para o Equador, conheci Bolívia e Peru; no caminho para Jamaica, conheci Venezuela, México, Panamá e Honduras; no caminho para Trinidad&Tobago, conheci Colômbia e Porto Rico; no caminho para a República Dominicana, conheci o Haiti. Aqui no Brasil, no caminho para Fortaleza, conheci João Pessoa e Natal; no caminho para Brasília, conheci Goiânia, e nos Estados Unidos, no caminho para Washington, conheci Hartford, no Connecticut e Boston, em Massachusets. Ainda, no caminho para Nashville, no Tenessee, conheci Little Rock, no Arkansas, e New Orleans, no Alabama. Assim, é só saber como aproveitar ao máximo a oportunidade no caso da bolsa formidável do “Ciências”, promovida pelo Governo Federal. Haja fôlego!
No grifo as sedes dos seminários do Kellogg Fellows II.  God bless.
Belo Horizonte, junho/2014.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
O que é o céu senão um suborno e o que é o inferno senão uma ameaça?

Jorge Luis Borges

domingo, 8 de novembro de 2015

UMA CARTA AO PAPA JOÃO PAULO II

Um grupo de pseudo-intelectuais dos anos 1960 em Belo Horizonte, eu incluído, combinamos de assistir ao filme Veridiana, do fabuloso Luis Buñuel e, depois de todos assistidos, nos reunirmos para os comentários num bar chamado Porão, numa velha casa tombada da Av. João Pinheiro.
Esta casa, aliás, havia sido a moradia de uma parenta do papai que chamavam de vovó
Petronília, que não conheci. O sugestivo nome do rústico bar justificava-se porque fora montado no porão da casa, que ficava ao rés da rua. Era um porão alto, de porta pesada de madeira. Está lá até hoje onde funciona uma clínica de fisioterapia.
Cerveja farta e conversa solta, passamos a discutir o filme, cada um com uma interpretação mais esdrúxula e o Luís, professor de cinema no Curso Comunicação da UFMG, era o moderador/coordenador dos debates.
Particularmente, eu estava muito confuso pois,
recentemente, havia começado a frequentar as missas da igreja católica, por influência do meu namoro com a Carminha.
Aos domingos toda a família dela ia à missa na capela do Colégio Loyola e eu também embarquei nessa. Não largava a namorada por nada!
No entanto, minha formação religiosa pregressa havia passado por fases absolutamente distintas e variadas. Mamãe me contou que fui batizado na igreja e a partir dali, nunca mais havia frequentado qualquer igreja mas havia sido induzido a fazer  minha primeira comunhão em São Paulo, por costume da época.
Logo depois, nos mudamos para Belo Horizonte onde fui morar com um tio solteirão, espírita praticante, onde toda quarta-feira participava dos cultos inclusive cantando os “pontos” dos espíritos que baixavam nas sessões láem casa. Para quem não sabe, os “pontos” são as músicas dos espíritos que, cantadas pelos presentes, atraem as almas para virem baixar nas sessões espíritas. E atraem mesmo. Lembro-me de que numa das sessões cantamos o ponto de um espírito, o índio Guarani, que baixou e falou que era meu protetor. Perguntou se eu tinha algum pedido a fazer e respondi que queria que ele acompanhasse a mamãe, que estava viajando sozinha naquele dia para  os Estados Unidos. Acreditem! Uma semana depois ele voltou à sessão e contou que o avião da mamãe, um Douglas DC-6, havia parado um dos motores, em cima do Mar do Caribe e ele o havia segurado até fazerem um pouso de emergência em Trinidad&Tobago, mudando o curso que era para Miami.
Mamãe confirmou por carta o episódio, um mês depois. Naquele tempo, este era o tempo dos Correios para as correspondências internacionais.
E mais este acontecimento favoreceu minha confusão religiosa.
Voltando ao Porão, confuso com a ideia da existência de Deus y otras cositas más, resolvi escrever para Sua Santidade para obter uns esclarecimentos. E assim fiz, com a absoluta perplexidade dos companheiros de mesa.
No dia seguinte, coloquei no Correio uma carta com o seguinte destinatário:
Vossa Reverendíssima Papa João Paulo II
VATICANO II - Itália.
Algum tempo depois recebi, também por carta, uma resposta, através do Bispo Dom João de Araújo Costa, que me informou que o Santo Padre havia recebido minha singela missiva e que me recomendava a leitura dos anais do Concílio Vaticano II, à disposição na biblioteca da Capela Sistina.
Lógico que lá estive, no entanto, em Latim, não consegui entender as respostas às minhas dúvidas religiosas que persistem até hoje.
(Foto Google)
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS 
Quando estou fraco fico mais forte. São Paulo

domingo, 1 de novembro de 2015

UM FELIZ RETORNO
No domingo, 25, reinaugurei minhas caminhadas matutinas. Vinha enrolando há mais de cinco anos essa retomada, que me fez tão bem durante mais de trinta anos, caminhando na Praça da Assembleia, então poluída, feia, malcheirosa. Enfim, sem nenhum atrativo especial, só mesmo a vontade de andar e liberar a mente.
Agora, troquei o itinerário pouco atraente pela maravilhosa, saudável, agradável e próxima Praça da Liberdade. Uma bênção!
A Praça está tão linda, com vários pássaros voando, pousando e cantando à sua volta; pessoas bonitas e animadas praticando exercícios matinais, maravilhosos museus, o coreto, o Palácio da Liberdade e outros pontos de atração turística. Enfim, um encantamento!
O vídeo aqui postado, de autoria do meu amigo Aloysio Bello, bem demonstra a descrição de uma das mais tradicionais localizações da cidade, datada da inauguração da capital, portanto, com mais de 100 anos, e agora totalmente restaurada com suas palmeiras imperiais enormes e verdejantes. Um policial militar - em pé naquele carrinho de duas rodas -, percorre todo o percurso, dando segurança aos frequentadores da área.
Já na volta, pego o jornal Metro com a D. Olga e, no repouso necessário na varandinha da minha toca, ouço o canto nostálgico de um bem-te-vi, empoleirado na frondosa amendoeira da rua ao lado.
E vamos em frente!
Belo Horizonte, outubro de 2015.

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS

“A beleza salvará o mundo.” Dostoievski

domingo, 25 de outubro de 2015

GOOD TO REMEMBER
Acordei cedo, lá pelas seis e meia e fui até a janela para ver como estava começando o dia. Arredei uma ponta da cortina e coloquei o nariz no vidro. Gelado. Olhei o termômetro pendurado na coluna de madeira da varanda: -25ºC.  A neve cobria o jardim até, quase, a altura da janela. Tinha acordado num outro mundo. O mundo do gelo, céu completamente fechado, nem uma frestinha de sol. A claridade do dia vinha comprometida com a massa fechada de nuvens brancas, mas, assustadoras.
Fiz uma barba rápida e tomei uma chuveirada ligeira para sair logo e ver de perto em que mundo estava desembarcando. Meu despreparo era total. Não tinha botas nem mesmo galochas. Paletó, então, só um elegante blazer de casimira. Não dava para enfrentar o frio, muito menos a umidade e a geleira lá fora.
Abri a porta do quarto e o Barney pulou na minha perna. Ele também estava curioso pra ver como aquele brasileirinho iria reagir àquelas temperaturas polares e sem nenhum agasalho apropriado. Mamãe havia tecido umas luvas de tricô até bonitinhas e um cachecol colorido, quando recomendou: “Use, sempre, estas luvas e este cachecol, meu filho. O frio nos Estados Unidos é tremendo, você nem acredita.” Ela tinha razão. Acostumado com o abafado calor de Ribeirão Preto, beirando os + 40º., e o cheiro da cana queimada como açúcar melado, de um dia para o outro, fuC amanhecer naquela geladeira aberta.
Arthur estava me esperando para o breakfast, na mesinha da copa. Lorraine, bem disposta, fritava os ovos e o bacon, colocava os pães na torradeira e o Barney observava.
Ele gostava de pão molhado e das sobras da farta mesa de lanches.
Tomamos o café ralo e Arthur me convidou para, com uma enxada e um vassoura dura, limparmos e varrermos o passeio, a entrada da casa e a pista da garagem, se não, o Buicão não sairia do abrigo. Comentou que, se alguém caísse em frente da casa dele, um pedestre qualquer, o lixeiro ou o carteiro, pela falta de limpeza do passeio, a responsabilidade seria dele e lá, as penas são duras para este tipo de displicência e desatenção com o próximo. Hard American rules.
Limpamos tudo, passamos um scratcher nos vidros e nas maçanetas do carro, para soltar o gelo e partimos para a estação de trem.
Muito atencioso, ele me emprestou um casacão preto, com gola de pele, um boné com abas para proteger as orelhas e luvas de couro. Brincou: “Estas suas luvinhas não conseguem impedir que seus dedos congelem e cuidado com o nariz e as orelhas. Viram gelo se não estiverem protegidos.”
- 25º. é frio demais. Felizmente a gente fica pouco tempo exposto pois todas as casas, escritórios e lojas, são aquecidos. 
Chegamos em Chicago às 9 para mais um dia de trabalho no Fórum.

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS

“Se há um idiota no poder é porque os que o elegeram estão bem representados.”Barão de Itararé

sábado, 10 de outubro de 2015

THELONIOUS MONK
Em 1965, morava em New York, num apartamentozinho minúsculo em Greenwich Village, com mais dois amigos brasileiros e um americano.
Éramos muito felizes e sabíamos.
Numa daquelas noites foi anunciada uma performance do pianista Thelonious Monk, no Village Vanguard, a poucos quarteirões de casa.
Conhecíamos, de nome, o pianista que havia gravado, pelo menos, duas músicas antológicas no mundo jazzístico: Round Midnight e Lulu’s Go Back in Town, então, em todas as paradas nas rádios e televisões.
Ivan e eu, fanáticos por jazz, fizemos uma vaquinha, pedimos dinheiro emprestado aos amigos e atravessamos a rua para a grande noitada. O “velho Monk”, como era chamado, era uma figura muito esquisita. Com um gorro ensebado na cabeça, sentou-se ao piano acompanhado de um baixista e de um baterista que, infelizmente, não me recordo dos nomes - desatenção nossa com os músicos diante do grande mestre, que encobria qualquer coadjuvante, por melhor que fosse.
Nunca tínhamos ouvido o som que ele tirava do piano. Notas fortes e  muito bem marcadas, num desenho melódico intrigante e fascinante ao mesmo tempo.
Na época, e continuo sendo até hoje, viciado em Jack Daniel`s - whisky americano destilado no Tennessee -, tomamos vários cowboys e nos encantamos com a música do mestre TM. Ainda guardo com muito carinho o LP comprado na portaria do Vanguard.
Belo Horizonte, outubro/2015.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
“Querer a felicidade já é ser feliz.” Jacques Demy 

"Pois é, mas você tem que correr atrás da felicidade, tem que querer mesmo, porque ela não cai no seu colo",- como complementa o meu primo, o psicólogo Marco Antonio Ladeira  

sábado, 3 de outubro de 2015

O DESTINO DE CADA UM

Encontramos uma vez, o Roberto Brant e eu, com o Mileto, irmão do meu querido afilhado João Stamatto, num Scotch Bar na Av. Angélica, em São Paulo.
Ele tocava clarineta/saxofone na banda do Hermeto Paschoal. No intervalo, ele foi até a nossa mesa, nós dois felissíssimos, pois não nos víamos há muitos anos e o convidei para sentar e tomar um drinque conosco. Ele agradeceu e disse que os músicos não podiam beber no recinto. Heim? Então, o convidamos para tomar uma cerveja lá fora, no bar da esquina. Topou na hora. Em pé, no balcão de mármore encardido de um velho bar paulista, tomamos umas cervejas deliciosas e recordamos as mil e uma noites em que, em Ribeirão Preto, tocamos na noite e fizemos serenatas, com certeza, per tutti belle donne de la cittá. Naquele momento solene de um encontro de dois grandes amigos a conversa fluiu no mesmo timbre e nível daqueles tempos e ele, subitamente me perguntou: “Você está fazendo o quê?” Respondi, hesitante: “Eu sou advogado, e você?” Ele me olhou no fundo dos olhos e, desafiadoramente, respondeu: “Eu sou músico!”. Quase batendo no peito de orgulho por ter escolhido uma profissão maravilhosa e de acordo com sua formação prática na vida. Nós tínhamos passado metade da vida tocando e cantando juntos em Ribeirão  e em quase todo o interior de São Paulo: Franca, Araraquara, Campinas, Jundiaí, Sertãozinho e muitas outras. Nós éramos os músicos da época. E esta frase dele foi tão forte pra mim que uma furtiva lágrima escorreu no meu olho esquerdo. Uma só. Ele não viu mas o Brant percebeu. Bebemos mais uma só, ele tinha que voltar para finalizar a apresentação da banda. Voltamos à nossa mesa e tomamos um derradeiro drinque, pois, eu estava arrasado. Voltamos para o Hotel sem dar uma palavra. O Brant foi muito sábio, nem comentou o assunto.
Afinal, foi uma escolha minha, ao invés de ser músico, tinha decidido ser advogado. E bem que tive chances, muitas. Nos Estados Unidos, numa determinada época, um pouco antes daquele encontro, havia lecionado violão para uma brasileira, Valucha, cantora e artista plástica que morava em Chicago e que me conseguiu um emprego de professor de violão na Folk and Country School of Music, em Chicago, onde poderia ter iniciado a carreira. Ela e eu gravamos um LP, capa desenhada por uma artista local, com 18 músicas que nunca soube do paradeiro dele. Encontrei um apartamentinho em Old Town, zona boêmia da cidade, para morar e começar minha carreira. Nada disso. Não deu certo. Eu era apaixonado demais! Abandonei o projeto.
E assim, com a paixão e pela paixão, transformei um músico razoável num advogado medíocre que acabou transmudado, com o tempo, num publicitário de relativo sucesso. Ces’t le destin. Coisa inexplicável, mas, irreversívelmente, verdadeira.
Naquela hora, aprendi uma lição definitiva. Nunca pergunte sobre o destino de alguém quando você não tiver a resposta que gostaria de dar. Fatalmente, ele vai devolver a pergunta, e aí, você chora. Chora mesmo, porque a gente não consegue mudar o próprio destino, este traço que alguém risca para nós e pronto.
Ninguém consegue. Sem nenhuma filosofia barata: de onde vem isto?
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
“Uma mulher pertence de direito ao homem que a ama e a quem ela adora mais que a própria vida.” Da obra “De l`Amour” de Stendhal  



sábado, 26 de setembro de 2015

BENDITO AUTÓGRAFO
Andava meio perdido numa rua em Washington/DC, nos Estados Unidos, violão nas costas, quando vi um letreiro na porta da boate Rainbow Grill, que dizia: Tonight Charlie Bird from 9 to 12. Free entrance.
Uau! pensei - Ele é um dos maiores violonistas do mundo! Não perco essa, por nada. Na verdade, lá no Tio Sam eles chamam esses violonistas de guitar players. Questão da língua. Guitar em inglês é o nosso violão e todas as outras variações de violões elétricos. Mas eu sabia que Mr. Bird tocava violão com cordas de nylon, como o que eu levava  nas minhas costas, brasileiríssimo, feito sob encomenda à Giannini pelo Cantinho da Música, loja especializada em Ribeirão Preto/SP.
Cheguei ao apartamento, que havíamos alugado num bairro simples da cidade, e falei aos meus amigos: Para hoje, temos programa. Vamos ouvir o maior violonista americano de jazz no momento, vocês topam? Mas, quanto custa? perguntaram; pois vivíamos numa dureza danada. Gritei pra eles: Entrada free!
Às oito e meia, estávamos à porta da boate, quando recomendei aos meus amigos, por favor, não falem que eu toco violão; viemos aqui para ouvir o mestre, ok? Todos concordaram e entramos. O Rainbow Grill era uma boate simples, de jazzistas, portanto, somente para apreciadores da boa música, que se supunha, seriam ouvintes comportados e silenciosos a cada música apresentada.
Mas, alguns whiskies depois, o Manoel levantou-se e, apontando para mim falou: Mr. Bird, our friend here is a brazilian guitar player. Fiz aquela cara de imbecil e aquiesci com a cabeça. Mr. Bird levantou-se e me convidou a acompanhá-lo até a cozinha; ele, com o violão na mão: Which songs do you playPlease do it. Encabulado, peguei o violão e toquei algumas canções em solo: Berimbau, Canto de Ossanha, O Astronauta, do Baden e do Vinícius, e Garota de Ipanema, do Tom Jobim/Vinícius, que faziam parte do meu melhor repertório. Eram as canções brasileiras do momento, nos Estados Unidos. Mr. Bird sorriu e disse: I`ll have a break now, could you please go back to the stage and play some?
Resultado: toquei por meia hora, quando então Mr. Bird voltou empunhando  um outro violão e improvisamos uma dupla até à meia-noite, com bateria e baixo nos acompanhando.
Foi, para mim, uma noite de glória total, pois, conservo até hoje o autógrafo de Mr. Bird com os seguintes dizeres: Thanks Roberto for your music.
Belo Horizonte, setembro/2015.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS

“Tudo que não puder contar como fez, não faça.” Immanuel Kant

sábado, 19 de setembro de 2015

AUTOGRAFANDO NA PRAÇA
No domingo, dia 13/09, na Praça Duque de Caxias, em Santa Teresa, foi lançado o livro LER É BRINCAR, do projeto Livro de Graça na Praça, do qual participei na edição infanto-juvenil junto com outros 24 autores, com uma crônica sobre episódio ocorrido na minha casa, que chamei de “Uma calopsita apaixonada”.
Ainda, na ocasião, foi lançado o livro “DITADOS, PROVÉRBIOS E DITOS POPULARES - Em prosa e verso”, este dirigido ao público adulto, que contou com a colaboração de vinte e oito autores.
Mais uma vez, o sucesso foi absoluto, com o comparecimento de mais de 15.000 pessoas, segundo dados da Polícia Militar, e para minha satisfação autografei mais de 200 livros para a criançada.
O programa LGP registra uma estatística formidável, com a distribuição de mais de 100.000 exemplares ao longo dos 13 últimos lançamentos. É um número excepcional, pois nos conforta saber que, nesse tempo, possibilitamos encaminhar para o bom hábito da leitura um contingente tão expressivo de crianças, jovens e adultos.
Meus parabéns aos promotores e organizadores do LPG. Sinto-me orgulhoso de participar do programa.
E vamos em frente, espalhando cultura.
Belo Horizonte, setembro/2015
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Si nada nos salva de la muerte, que el amor nos salve de la vida. Pablo Neruda












terça-feira, 15 de setembro de 2015

                                     Foto Google
AS FANFARRAS
Hoje cedo fui buscar meus remédios (pressão, ansiolíticos, etc.) na “Farmácia Popular” da Araújo, na Av. Brasil, e topei com uma fanfarra ensaiando. Era regida por um oficial da Polícia Militar e os meninos e meninas, com um uniforme que parecia de escola pública.
Viajei no tempo e fui à década de 1950, quando desfilava em São Paulo na fanfarra do Ginásio Castro Alves, pelas ruas do bairro de Pinheiros, onde morávamos.  Que lembrança adorável!
Nosso uniforme era de calças azul marinho e um moletom branco, tendo bordado Castro Alves, em azul, no peito. Lá, a garoa nos castigava no inverno e esses ensaios começavam nas férias de julho, indo culminar no desfile de sete de setembro, na semana da independência.
Nossa marcha subia pela Rua Teodoro Sampaio até a Av. Dr. Arnaldo, na descida da Av. Pacaembu, onde, no estádio, daríamos uma volta triunfal entre tropas do Exército, Marinha e Aeronáutica e outros colégios dos bairros vizinhos.
Era apoteótico para nós, meninos e meninas com seus tambores, caixas, taróis, clarins e tubas, orgulhosamente, tocando o Hino Nacional e outros lindos hinos das três forças armadas. .
Enchíamos-nos de orgulho à entrada no imenso pórtico do Estádio Pacaembu para a volta pela quadra olímpica, cantando o Hino Nacional.
Cheguei a chorar de emoção em algumas das quatro vezes que desfilei. Naquela época, o ginásio era feito em quatro anos, e o científico/clássico, em mais três, antes de nos habilitarmos a prestar o vestibular,
Desfilei por dois anos tocando tarol e por mais dois tocando clarim, feito um que, orgulhosamente, está dependurado numa estante da Toca.
Belo Horizonte, setembro/2015.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
“A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.” Charles Chaplin        

terça-feira, 25 de agosto de 2015


                                         Tarde de autógrafos em 2014
LIVRO DE GRAÇA NA PRAÇA 2015
Há quatro anos e meio de sua criação - (dezembro/2010), venho registrando algumas de minhas experiências neste blog semanal, o que tem me proporcionado tantas alegrias e surpresas.
Entre as experiências agradáveis estão os convites para participar das três últimas edições infanto-juvenis realizadas pelo projeto “Livro de Graça na Praça” - em 2013, PORCÓS, FOGOPAGOUS; em 2014, É COR DE LUAR; e, em 2015, com a crônica “A Calopsita Apaixonada”, na edição LER É BRINCAR.  O lançamento desta nova edição está marcado para o próximo dia 13 de setembro, a partir das 9:00 horas, na Praça Duque de Caxias, no bairro de Santa Teresa,
Esses escritos vêm dando continuidade aos meus primeiros rabiscos com o conto "O dedo", publicado na antologia "Novos Contistas Mineiros", de 1996, pela Editora Mercado Aberto, do Rio Grande do Sul.
Aqui, no blog, organizei ainda um repertório musical, que vem servindo de background às minhas escaramuças, viagens, aventuras e formidáveis momentos - aqui apresentados de forma natural e espontânea -, cada qual com sua trilha sonora, além de ratificar a minha paixão pela música A princípio, cheguei a sugerir que os textos aqui postados fossem lidos acionando-se uma das músicas escolhidas para acompanhá-los.  Como sempre, espero contar com os comentários de vocês, que me honraram com mais de 15.000 visitas neste período, inclusive com sugestões que possam melhorar este nosso espaço de descontração e divertimento.
Ah! Espero todos na Praça Duque de Caxias no dia 13/09, a partir das nove horas, para mais uma manhã de autógrafos.
Em Belo Horizonte, agosto de 2015, centésimo vigésimo sexto ano da Proclamação da República Federativa do Brasil e centésimo nonagésimo terceiro da Independência.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMAS
“O menino é o pai do homem.” Machado de Assis


sexta-feira, 14 de agosto de 2015

                                          Em Copacabana, Helvécio, Lia, Lúcia e Roberto.
                                          Ao fundo o professor de inglês, McDermmot.
O CENTENÁRIO DE UM CIENTISTA (I)
O dia 20 de julho de 2015 marca a data do centenário de meu pai. Nesta data simbólica, não posso deixar de registrar alguns acontecimentos sobre sua curiosa e profícua vida como médico, oficial do exército brasileiro e professor.
Em dezembro de 1939, a vida para um médico recém-formado numa cidade provinciana, como era a Belo Horizonte da época, não apresentava nenhuma perspectiva de futuro, especialmente para um jovem médico com ambições de se lançar ao mundo, pesquisando cientificamente sobre a vida e a saúde das pessoas.  De cara, prestou concurso para o exército e foi aprovado como 1º tenente-médico do glorioso Exército Brasileiro, sendo designado para servir no Hospital Central do Exército-HCE, em Manguinhos, no Rio de Janeiro.  Mudou-se com a família, já formada com a mulher Maria Aparecida, a Lia, e os filhos Lúcia, com dois anos, e Roberto, um ano. Foram anos duríssimos, morando numa pensão da Rua Constante Ramos, em Copacabana, onde Lia, costureira habilidosa, para ajudar nas despesas mensais, pedalava na sua máquina de costura Singer, herdada da mãe, vestidos para toda a vizinhança.
O disciplinado tenente acordava de madrugada, pegava um ônibus até a estação da Central do Brasil e, de lá, um trem suburbano até Manguinhos, na zona norte da cidade. Era o dia inteiro de trabalho, atendendo a um quartel com mais de cinco mil soldados e oficiais, com suas variadas doenças, infecções e alergias, com pouquíssimos recursos clínicos ou farmacêuticos e nem a  penicilina ainda havia sido inventada.
Alí, no Rio de Janeiro, a família passou alguns anos, com uma praiazinha aos domingos para aliviar as tensões da exigente rotina militar do Dr. Helvécio.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS

“A vida é um emaranhado de acontecimentos que, às vezes, dá certo.” Roberto Brandão

domingo, 9 de agosto de 2015

A LINHA DO EQUADOR
Quando descemos do avião, no aeroporto de Quito, capital do Equador, senti-me carregando o dobro do meu peso. Era como se tivesse engordado mais oitenta e cinco quilos.
Para nós que vivemos em Belo Horizonte - a pouco mais de 700 metros acima do nível do mar -, a diferença da pressão atmosférica nos pressiona para baixo, nas cidades andinas, então muito altas. Elas estão a mais de dois mil metros e o curioso é que, naquelas alturas, nos adaptamos muito bem, desde que nos privemos de algumas atividades da nossa rotina. Por exemplo, quando eu morava na Av. Raja Gabaglia, caminhava diariamente durante uma hora ao redor da Praça da Assembleia, uns cinco quilômetros, mais ou menos, sem nenhum cansaço exagerado. Era como se estivesse andando à beira-mar, porém, privando-me das belezas insubstituíveis da paisagem marinha, pois, com boa imaginação, projetava minhas caminhadas com as realizadas em Kingston, na Jamaica; em Puerto Plata, na República Dominicana; e até mesmo, em Cabo Frio ou Búzios. Uma fértil imaginação me remete a qualquer lugar do planeta.
Voltando ao Equador, fomos visitar um monumento que divide o hemisfério sul do hemisfério norte e lá, resolvemos testar a pressão atmosférica. Convidei uma amiga, a Margarita, para um passeio de sul a norte e, sem exagero, passamos pela fronteira da linha do Equador sem qualquer mudança de pressão. Aliás, a única pressão que sentíamos era a distância enorme para encontrar um boteco onde pudéssemos tomar as espetaculares cervejas equatorianas, que acabamos encontrando e, ao sul do Equador, tomamos todas. Muchas gracias por la compañia, Margarita.

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
A única confusão é morrer. Fernando Pessoa

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sábado, 1 de agosto de 2015

Atuá kamba
No final do século XIX, o português Manoel Corrêa da Costa comprou uma gleba de terra no Estado do Mato Grosso, casou-se com uma índia, raptada da tribo dos Apiacás, e reproduziu uma enorme prole de mestiços que se estabeleceram em diversos pontos do Brasil.
O mais velho, a quem registrou com o nome de Manoel Hermeto Corrêa da Costa, se debandou para o Rio de Janeiro, indo  trabalhar numa fábrica de tecidos. Com o tempo, foi chamado para abrir uma filial da fábrica em Lavras, no sul de Minas, onde conheceu Maria Augusta, vinte anos mais nova, menina muito educada e habilidosa na costura e na cozinha. Outra grande prole se formou ali, filhos herdaram o nome próprio do avô: Hermeto. Somente alguns desta nova prole mantiveram o sobrenome da mãe, Pádua Costa, outros mantiveram o do pai, Corrêa da Costa; porém, as gerações seguintes aboliram os sobrenomes compridos e adotaram o Hermeto como nome de família.
Foram onze os irmãos Hermeto que, nesta rápida história de família, resolvi chamá-los de “nucas pretas” em homenagem a minha mãe, que foi quem descobriu essa curiosidade familiar.
Quando os cabelos dos Hermeto vão começando a embranquecer, resta-lhes uma faixa de cabelos mais escuros na nuca. Mamãe havia notado nos cabelos dela, nos da Lúcia, minha irmã, e nos meus.
No domingo passado, quando nos encontramos para um café na casa da Tia Marina, constatamos que a Hyla, a mais velha das primas, ali presente; o meu primo Maurício, o mais velho dos primos homens vivos, e eu também ostentávamos a risca preta na nuca. Então, com cuidado, pesquisei a cabeça da tia Marina e ali descobri uns poucos fiozinhos pretos na nuca apesar das suas 98 primaveras. Marca de família, quem sabe?
Em tempo: “Nucas pretas”, numa versão livre para o tupi-guarani é “atuá kamba”, em homenagem à nossa bisavó india.
Belo Horizonte, julho/2015.
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
“O homem deve ser reinventado a cada dia.” Jean-Paul Sartre

  

terça-feira, 28 de julho de 2015

BELO HORIZONTE FLORIDA
Desculpem-me a filosofia barata, mas as flores são a maior alegria visual da vida. E Belo Horizonte está nos proporcionando uma alegria diária ao nos embrenharmos por suas ruas e avenidas. Aqui, ao lado da Toca, por exemplo, na Praça da Liberdade, é uma exuberância de ipês rosas em todos os seus lados. Faço questão de passar por lá toda vez que vou à rua.
E as avenidas Brasil e Getúlio Vargas estão uma beleza! A Contorno, então, uma joia!
Os administradores municipais dos parques e jardins estão de parabéns pela quantidade de ipês que espalharam pela cidade na sua área central. Só não sei como anda a periferia.
Lembro-me de que, numa manhã, nos Estados Unidos, acordei em Washington e era o dia da floração das cerejeiras. Um encanto! Lá, a cidade permanece florida por um período maior , pois aqui os ipês começam a desfolhar em dois ou três dias.
Muito altos, é impossível colher flores dos ipês, assim catei no chão da Praça umas pétalas para levar para minha tia Marina, 98, na visita semanal que faço a ela aos domingos, a troco de um cafezinho e um pedaço de bolo preparado pela Jandira.
Cuidadosamente, ela espalhou as pétalas pela casa fazendo um caminho para eu passar, como num agradecimento à minha esperada visita domingueira. Senti-me como um rei, passeando sobre as pétalas rosas como os romeiros naquelas procissões da Ressurreição de Corpus Christi por todas as cidades do interior mineiro. Aí, comecei a entender a intenção dos que acompanham as procissões. Realmente, é um ato de reverência e amor àquele que respeitamos e amamos de uma maneira especial. 
Mutatis mutandi, como diriam meus colegas, é como me sinto com relação à minha tia Marina. Caminhei sobre as pétalas para fazer uma homenagem a ela, que merece tudo. Um beijo, querida.
Belo Horizonte, julho/2015.

FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
A poesia é a descoberta das coisas que eu nunca vi. Oswald Andrade



segunda-feira, 20 de julho de 2015

UM ACESSÓRIO CURIOSO E EXTRAVAGANTE
No outro dia, fui a um casamento do filho de um amigo e me encontrei com um bom e relativamente novo amigo que tinha um hábito diferente, ou melhor, uma mania meio estranha, até, quem sabe um vício incontrolável.
A cerimônia do casório ocorreu numa igreja diferente, da qual não me lembro o nome, bem diferente das demais igrejas católicas, Ela fica numa espécie de casa, no meio de um bairro muito populoso, e sem nenhuma referência a qualquer ambiente religioso. Não tinha torres, cruzes, crucifixos, imagens de santos, nada, mas, curiosamente, o ambiente remetia a um lugar limpo e puro que transcendia religiosidade. Os noivos me contaram, depois, que era a única igreja disponível para casamentos naquele dia.  Belo Horizonte já não é mais aquela cidade simples e roceira de alguns anos para cá.
Chamei um táxi, prevenido pela lei seca e, junto com o motorista, nos metemos a ler as placas das ruas próximas ao lugar indicado. Ufa! Felizmente, cheguei a tempo de postar-me num ponto estratégico para ver os noivos passarem sobre um tapete vermelho até o altar onde por onde  perfilaram familiares, convidados e padrinhos. Todos na maior elegância, seguindo o figurino exigido pela cerimônia, inclusive o meu amigo citado acima. Mas, ele tinha um segredo.
Mais um táxi obtido através do celular e rumei para o Minas II, local da fabulosa recepção. Quando lá cheguei, procurando um lugar para assentar-me, vejo, ao longe, o meu amigo abanando a mão, convidando-me a me juntar a eles, numa estratégica mesa do mesanino. Foi um achado.
A festa foi exuberante em todos os sentidos. Decoração do enorme salão do Minas II, com flores da estação, mesas elegantemente decoradas com toalhas finas, brancas como neve, pratos, talheres e copos como manda o figurino. Há muito, eu não aparecia num lugar tão requintado e fino. E a festa se desenrolou com um serviço primoroso, garçons e garçonetes, servindo finíssimas bebidas a gosto do freguês: cervejas, whiskies, vinhos, espumantes rosés da melhor qualidade, salgados, também finíssimos, tudo amparado por uma música de fundo com repertório bem escolhido.
E tudo correu perfeitamente, alguns casais resolveram dançar e fiquei a sós com meu amigo na mesa.
Subitamente, ele saca do bolso de dentro do terno uma embalagem de adoçante artificial e me oferece:
“Aceita um gole, Roberto?” Sem entender, agradeci e vi que ele desatarraxou a tampinha vermelha e levou o bico até a boca, dando uma golada, olhando pra mim com cara de sem-vergonha e sorrindo.  Fiquei estupefato. “O que é isto, meu amigo?”
Num sorriso matreiro ele disse: “É cachaça, Roberto, e da boa. Quer um golinho? “
Belo Horizonte, julho/2015.
FRASES PENSAMENTOS E AFORISMOS
“Do menino e do borracho, Deus põe a mão por baixo. “

Dito popular gaúcho.

domingo, 21 de junho de 2015

UMA VIAGEM INUSITADA
Alanderson entusiasmou-se e convidou a esposa Euzérbia para viajarem ao Rio de Janeiro no fim de semana. Fizeram contas, conferiram o saldo bancário e, animados, resolveram convidar o amigo Claudiomir e a esposa Anaximandra para acompanhá-los.
Também entusiamado, o casal perguntou se poderia levar a filha Estelza, o filho Edwander, e dois amiguinhos dele, o Hildeviro e a Jacquelaine. Concordaram e confirmaram a reserva de hotel que Alanderson já havia feito com Lindovaldo, um velho gerente, seu amigo.
Ele já havia passado uma temporada naquele hotel com a mulher e outro casal de amigos, o Corbiniano e a Gecineide, quando lá se encontraram coincidentemente com outros colegas de faculdade e suas respectivas famílias: Uetslander e Neucida, Warmillon e  Urquiza, também com o filho Teofânio, a mulher Sheislane junto com os netos Jullyadson e Irandhir e a filha Thabata, todos animadíssimos para aquele divertido passeio.
Viagem acertada, providências tomadas, chegou o dia. Pegaram um táxi com um falante motorista de sotaque nordestino e de nome Gessiwilliam e rumaram para o aeroporto bem cedo para pegar o primeiro voo, cujo comandante Overlândio, amigo de Alanderson, havia recomendado, pois voaria com a tripulação formada pelo co-piloto Gilvandro  e as aeromoças Krislainia e Maryângeli, ajudadas pelo comissário de bordo Sanderley. Gente muito fina, disse ele.
Durante o voo transcorreu tudo bem, porém, Alanderson e Euzérbia tiveram que se assentar em poltronas separadas pois as poltronas haviam sido marcadas em duplicidade.
Conversa vai, conversa vem, ele soube que seus vizinhos de poltrona eram Robérison e Nelinilse, que estavam voltando para o Rio depois de uns dias em BH. O filho deles Wanderlan estava na poltrona de trás, com a babá Nilcedes.  Já os vizinhos dela eram o simpático casal Marinaldo e Elizonar, com a filha Cleomilda, bebê de colo.
Voo com céu de brigadeiro. O desembarque foi alegre, apenas com uma pequena surpresa: uma das malas não havia chegado, porém o prestativo Steférsion, da companhia aérea, resolveu o problema em segundos.
O motorista da van, Joelcyrley, acomodou logo toda a bagagem, todos os amigos e mais dois novos passageiros, o casal Gizlayde e Francileudo, que seguiram com eles pelo aterro até Copacabana.
Com um sol de rachar, chegaram ao hotel cujo prestativo porteiro, Adirley, os recebeu de braços abertos. Não quiseram perder tempo e correram à lojinha do hotel para completarem o guarda-roupa com biquínis e sungas. Foram atendidos pela vendedora Claudisséia.
Em minutos, de mãos dadas, a turma atravessou a Av. Atlântica, 
sob o olhar atento do inspetor de trânsito Whailson, para se abrigar na barraca oferecida pelo hotel.
Assim, prenunciava-se uma bela temporada.
Belo Horizonte, junho/2015.
rhbrandao@gmail.com
FRASES, PENSAMENTOS E AFORISMOS
Si nada nos salva de la muerte, que el amor nos salve de la vida. Pablo Neruda