Numa bela tarde de julho lá se foram as três meninas até o posto calibrar os pneus das bikes, últimos modelos da Caloi. Arrastaram-se até o posto da esquina, bem pertinho,
e pediram a um dos frentistas para encher os pneus na calibragem certa, pois, elas mesmas, não sabiam! Tudo certo? Vamos dar uma volta no quarteirão porque lá no prédio não tem lugar pra nós: no salão de festas é impossível, tem portas e degraus pra todo lado. Na entrada, nem pensar, seria subir e descer umas mil vezes até cansar da paisagem compreendida entre uma grade e um muro que elas já conheciam há muitos anos. Não inspirou! Na garagem? É proibido, pois, pode arranhar os carros. No passeio? Talvez, mas correndo um risco enorme, pois, entre duas ruas de grande movimento, duas subidonas, teriam de andar um quarteirão desviando dos pedestres trabalhadores na região, como os funcionários da Boníssima, os frentistas do Posto Cabral no caminho de casa, os esportistas voltando do Clube Militar e os funcionários do Ministério da Agricultura que sempre preferem andar no passeio do lado de cá à trilha no inóspito caminho ao lado do muro da repartição pública, enfim, era também um caminho árduo e sem graça.
“Isabela e Raíssa , vamos encostar as bicicletas!” Falou Mariana. E as três, comportadamente, voltaram pra casa e entraram com as bicicletas pela garagem. “Waldir, ô Waldir, abre o portão da garagem, por favor!” Gritaram elas.
Sempre solícito, o porteiro Waldir abriu o portão e lembrou que certa vez, o Alberto Levy, morador do apartamento 401 desceu a rampa da garagem com o carro sem freios, arrancou o portão e foi bater direto no muro lá em frente. Na época, ainda não tinha sido instalada a central de gás no final da rampa. Meno male! O carro bateu com tanta força que furou o muro e o prédio recebeu uma intimação do vizinho, no dia seguinte, solicitando a reparação imediata do estrago. O Dadá conferiu tudo e, preocupado, ajudou o sr. José Resende, então síndico, a providenciar a reconstrução do muro sem ônus para o velho vizinho. Acidentes acontecem!
Mas, a preocupação do Waldir era procedente, pois, naquela rampa íngreme, se faltassem os freios nas bicicletas das meninas seria tiro e queda.
E não deu outra, a Isabela e a Raíssa desceram primeiro, juntas, raspando no muro e saíram ilesas, mas, a Mariana calculou mal a distância e na curva bateu no muro. Uma tremenda trombada que não furou o muro como o Alberto, mas, quebrou o nariz e esfolou o rosto da menina. Os freios falharam, disse ela.
O Waldir coçou a cabeça e providenciou a ambulância para levar a Mariana ao Pronto Socorro. Nada de grave, uns pontinhos aqui, outros ali e ela já estava linda de novo.
Quando o Braga chegou, depois que fechou o “banco”, soube do movimento no prédio e foi direto para a garrafa diária de vinho na varanda sendo informado do ocorrido pela Sônia, no caminho do tugúrio. Ela estava na varanda acompanhando toda a confusão e viu, até, quando o Konisbergue, ou o espírito dele, foi correndo pra acudir a neta e ver se o Impala preto tinha sido atingido.
E na cadeira preferida, dona. Santa continuou sorrindo para o além, quando a paz voltou ao Edifício Jacques Saul.
Roberto H. Brandão – julho/2009
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