As varandas são o melhor posto de observação.
Esteja você buscando o movimento do dia-a-dia da sua cidade, o caminhar dos seus vizinhos, os incógnitos que passam pela rua, os automóveis com ou sem destino certo, as motos extravagantes com seus canos de descarga abertos, enfim, todos que movimentam aquele espaço que você observa.
Nas varandas, mais abertas e altas você consegue, ainda, ver o movimento das nuvens, das estrelas, da chuva que vai e vem como uma ameaça. Do Sol, que nasce e morre todo dia. Da Lua, que também nasce e morre, mas deixa um sentimento de esperança para um novo dia melhor e mais feliz. .
Tem gente que morre de medo de chuva. Será porquê? A chuva é benta. Só traz saúde e alegria. E suas gotas são tão puras que não poderiam fazer mal. E elas vêm do céu, quer mais?.
Outro dia, o Zuza estava sentado na varanda da casa dele, das melhores varandas que conheço, vendo todos esses acontecimentos da vida numa cidade grande, em frente a uma avenida movimentada e uma mata preservada pelo Ministério da Agricultura, cheia de fícus australianos, mangueiras, flanboyants, quaresmeiras, ipês e paineiras, pombos, bem-te-vis, rolinhas e pardais. Uma exuberância da natureza!
Muito diferente da varandinha da casa da Rua Guaranésia, de frente para a Rua Jacuí donde se via, no máximo, a fachada da Farmácia Universal, dos seus amigos e vizinhos, talvez, oportunidade do seu primeiro emprego, ou mesmo da varanda da casa de três pavimentos da tia Delane, em Juiz de Fora, para onde foi deportado para aliviar as despesas da casa do Sêo Zé Braga, onde morou até ser admitido no internato do Colégio Santo Inácio de Loyola, por honra e graça do frei Tauzin, vagabundo, pedófilo, inescrupuloso que morreu apodrecido numa prisão em Paris, por todos os crimes que cometeu.
A vida não perdoa!
Voltando à vista da casa do Zuza, como disse, das melhores de Belo Horizonte, de onde ele vê e sonha com a Serra do Curral. Que ironia, a Serra do Curral D’el Rey que, hoje, abriga uma metrópole de milhões de habitantes, sem cor nem destino, num vai-e-vem descontrolado, prá tudo e prá nada. E a vista da Serra do Curral, também, propicia visões formidáveis e imprevistas.
Distraído pelo vinho, na varanda, o Zuza seguia o vôo de um pardal que voava da mata em frente e, sobre a Avenida Raja Gabaglia quando, subitamente, mergulhou como se tivesse sido atingido por uma bala mortífera de um caçador escondido.
Ele correu pela varanda, pegou o elevador e desceu pra ver o que tinha acontecido com o bichinho. No passeio, pegou o pardal e constatou: ele está morto. O coração matou o inocente pássaro. Infarto fulminante do miocárdio. Que pena!
Triste, o Zuza voltou para o seu posto de observação e concluiu como bom piloto:
O pardal foi abatido em pleno vôo. Como tantos!
Roberto H. Brandão – dezembro/2010
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